Com o tema “O futuro que queremos”, a Rio+20, conferência sobre desenvolvimento sustentável, começa na próxima quarta-feira (13), no Rio de Janeiro. O Brasil conta com vários exemplos de ações que envolvem sustentabilidade e produtividade. Em Mato Grosso, uma granja modelo produz carne e grão, sem poluição. É uma pequena amostra do que pode vir a ser a atividade agropecuária no futuro.
A fazenda, que implantou um moderno sistema de funcionamento autossuficiente, fica entre os municípios de Sorriso e Vera. Ela já está certificada pela ONU por seguir o Protocolo de Kyoto, ou seja, por não emitir gazes poluentes.
Segundo Paulo Lucion, um dos donos do local, são produzidos por ano 16 mil toneladas de soja e 24 mil toneladas de milho. Eles também criam 220 mil cabeças de porco. O grande diferencial é que tudo isso é feito com impacto ambiental nulo. Em uma frase, Paulo resume a filosofia do sistema: “O subproduto de uma atividade é produto principal para a atividade seguinte”.
Foi uma empresa especializada em projetos de sustentabilidade que capacitou a fazenda a transformar o que é considerado lixo em matéria-prima. A empresa trouxe a tecnologia, instalou equipamentos e conseguiu as licenças no Ministério de Ciência e Tecnologia do Brasil e na Organização das Nações Unidas.
O projeto tem o nome de MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo), uma ferramenta criada pelo Protocolo de Kyoto, que permite aos países desenvolvidos comprar créditos de carbono de países em desenvolvimento.
Respeitando a reserva legal, a fazenda cultiva quatro mil hectares de soja e milho. Faz plantio direto, um sistema que evita erosão, melhora o solo e ainda faz captação de carbono. Tudo que se colhe é processado na própria fazenda.
Ao lado dos silos, ficam uma fábrica de ração e uma indústria de esmagamento. Uma estrutura, pronta e já testada, tem capacidade para produzir biodiesel capaz de atender toda a frota da fazenda. O farelo produzido é destinado para a ração, à base de milho, que alimenta a granja no sistema de cria, recria e engorda.
Doze mil matrizes, de alta genética, são alojadas e tratadas de acordo com o mais recente protocolo de bem-estar animal. De acordo com Jonas Stefanello, coordenador técnico do empreendimento, as porcas em gestação, por exemplo, não ficam mais em gaiolas, como antes, e sim em baias coletivas, onde vivem mais soltas. O confinamento também é mais espaçoso e confortável e eles não cortam mais dentes e rabos dos animais.
Lucros e benefícios para o meio-ambiente – A grande questão na criação de suínos é o que fazer com os excrementos, já que o porco excreta na mesma quantidade que come. Na fazenda, o fundo das baias é servido por uma lâmina de água, que conduz os dejetos para uma central de captação. O chorume, então, é conduzido para os biodigestores, onde é tratado em um processo que limpa a água e gera o metano, um dos mais poluentes entre os gases de efeito estufa. O diferente neste processo é que o metano não é liberado no ar.
O biogás extraído da granja é, por sua vez, canalizado para alimentar motores que o transformam em energia elétrica. Por ano, a central produz mil quilowatts de energia, que abastecem a fábrica, os secadores e todas as instalações. O sistema gera uma economia de R$ 80 mil na conta de luz anual. “A gente consegue reduzir cerca 80% do consumo de energia, que a gente estaria comprando da rede elétrica”, afirma Paulo.
O esgoto tratado, que saem dos biodigestores, vai para lagoas de decantação, de onde é bombeado para as lavouras. É o biofertilizante, subproduto da criação dos porcos. Com esse tipo de irrigação, a fazenda reduz em 40% a quantidade de adubo químico que teria que aplicar na produção da soja e do milho. Além da economia, o adubo orgânico tem menor impacto ambiental.
Para completar a modernização, a fazenda acabar de ampliar a integração lavoura-pecuária com pastos irrigados, onde o capim se alterna com as culturas na mesma área. Sai a soja, entra o milho e depois o pasto que, adubado assim, é altamente produtivo.
A fazenda consegue a colocação de dez cabeças por hectares, dez vezes mais do que a média nacional. O projeto prevê a engorda de cinco mil bois por ano.
Por produzir sem poluir, a fazenda gera um crédito de carbono. A cada 110 metros cúbicos de gás metano que deixa de emitir, um crédito de carbono é gerado. Nos últimos dois anos, a fazenda conseguiu quase 50 mil créditos, vendidos no mercado internacional por cerca de R$ 1 milhão.
A fazenda fica com um terço deste valor e o restante fica com a certificadora. Mais importante que o dinheiro, porém, são o biogás e o biofertilizante que sobram do processo, o licenciamento ambiental e, acima de tudo, a consciência de fazer um trabalho limpo.
A ONU tem 202 projetos de MDL registrados no Brasil, em várias atividades. Todos estão de acordo com o tripé da sustentabilidade: são socialmente, ecologicamente e economicamente viáveis, ou seja, além de preservar o ambiente, geram lucro.
A fazenda de Mato Grosso segue exatamente esse padrão. Seus proprietários acabam de inaugurar um frigorífico, com a intenção de exportar carne sustentável para a Europa. “A gente pensa em produzir alimento de uma maneira autosustentável e com responsabilidade sócio-ambiental. Sabemos que temos compromisso com a nossa geração e com as gerações futuras”, garante Paulo. (Fonte: Globo Natureza)