Efraim Rodrigues (*)
Na semana passada, eu falei sobre o composto orgânico que faço em meu apartamento. Um leitor então me lembrou que existe algo ainda mais eficiente do que degradar os resíduos domésticos em composto orgânico.
Na China e Índia, os resíduos orgânicos são colocados em meio aquoso, e viram uma pasta. -Não se desesperem, não acabou ainda- .Nesta pasta aquosa, a degradação dos resíduos não ocorre do mesmo jeito que no composto, onde as cadeias orgânicas são quebradas, e se libera CO2. Como aqui os resíduos estão em meio aquoso, onde não entra oxigênio, o gás formado é o Metano, CH4. A razão de ser de toda esta estória, é que o metano é um gás combustível. Por isso, ter um biodigestor é algo ainda mais eficiente do que uma composteira. No biodigestor se extrai ainda um pouco mais do resíduo. Ao final da biodigestão, também é produzido um resíduo excelente para a agricultura.
Esta colega de Maringá, a Marta Bellini, construiu uma casa em que tudo é pensado para consumir o mínimo de recursos naturais, inclusive os materiais da construção, e onde o biodigestor é somente uma das partes.
O biodigestor da Marta é de construção muito simples; uma fossa de 5 metros de profundidade, com dois metros de largura, impermeabilizada, para onde vão todos os encanamentos de águas servidas da casa. Infelizmente, a produção de matéria orgânica da casa da Marta ainda não é suficiente para produzir gás suficiente para manter nem uma chama acesa. Ela não está se beneficiando materialmente ainda, mas pelo menos tem o benefício de não poluir sua cidade. A casa dela, onde moram duas pessoas, produz somente dois Kg de lixo por semana, já que todos os resíduos da casa, fossa inclusive, vão para o biodigestor.
Na agricultura o uso de biodigestores já é antigo, e tem muito produtor de frangos e suínos usando o gás do resíduo destes animais para aquecer pintinhos e porquinhos no inverno. Isto representa uma baita economia para eles, por isso a prática está ficando cada vez mais freqüente entre os melhores produtores. Naturalmente, os piores, assim no campo, como na cidade, preferem reclamar dos preços de tudo a arregaçar as mangas.
E falando em iniciativas criativas a partir de idéias consagradas, eu conheci ontem um zootecnista de Juiz de Fora que está ganhando dinheiro vendendo tecnologia para o cultivo de minhocas. Tem a caixa, o inóculo de minhocas, a peneira para separar o húmus pronto, das minhocas, e tudo o necessário.
Mais do que complicar a vida do cidadão, a compostagem, a biodigestão e a vermicompostagem, são fontes de diversão. Digo com conhecimento de causa que o composto, por abrigar tanta vida, é fonte diária de surpresa para mim. Idéias como estas, são uma fonte inesgotável de educação para os pequenos – Uma caixa de composto encerra um mundo de reações físicas, químicas e biológicas, e sociais também, se pensarmos nas conseqüências do uso destes resíduos.
Para aqueles que vivem reclamando do preço das hortaliças, que as plantem ! Qualquer saquinho de leite com terra (e adubo orgânico!) consegue manter um pé de tomate. Não me diga que seu apartamento não tem lugar para um saquinho de leite no chão, e que você não tem tempo para colocar meio copo de água nele todo dia. Ao fazer isto, vocês estarão fazendo muitas coisas ao mesmo tempo; estarão economizando dinheiro, estarão comendo verduras mais saudáveis que as dos supermercados, estarão fechando o ciclo dos resíduos, reaproveitando-os dentro da cidade mesmo. Estarão também vendo quanto tempo leva para um pé de tomate crescer e produzir, e que afinal de contas o preço não é tão alto assim!!
* É Ph.D. em Ecologia pela Harvard University, professor adjunto de Recursos Naturais da UEL e autor do Livro Biologia da Conservação.