Erosão – O chão fugindo aos nossos pés

Efraim Rodrigues (*)

A erosão é responsável pela perda de 1 bilhão de toneladas de solos brasileiros por ano.

Desde o ciclo da cana de açucar, há quinhentos anos, que nós exploramos nosso solo sem nos preocuparmos com as chuvas.

A situação dos solos brasileiros não foi criada ontem, por algum acaso, ou azar passageiro. Não. Nós plantamos isto ao longo de séculos de descaso com nosso solo. Durante todo este tempo, nós pensamos que o solo era um recurso infinito. Quando a terra cansava aqui, íamos para lá, depois acolá e mais além.

Eu sou privilegiado, por ser um professor de agronomia no Brasil. Este nosso país é um laboratório vivo sobre a erosão.

No sul de Minas Gerais, por exemplo, os agricultores conseguiram combinar o pior de dois mundos. Agrotóxicos e tratores modernos convivem lado a lado com a antiga técnica de cultivo morro abaixo e o plantio da batata, que é altamente erosiva e protege pouco o solo.

Lá em Minas, os agricultores aram a terra morro abaixo, e se acham muito inteligentes porque estão economizando combustível. Afinal, para baixo todo santo ajuda. E fazendo deste jeito, os agricultores estão dando uma bela ajuda para os santos levarem o solo todo para baixo.

O resultado é previsível. Erosão laminar, em sulcos, assoreamento de rios, estradas esburacadas, enfim, está aí o tal laboratório de erosão do qual eu falei.

O pior desta estória, é que em um solo, o melhor está em cima, como a cobertura de um bolo. É justamente esta parte que a água leva. Para piorar ainda mais a estória, alguns nutrientes do solo são muito solúveis na água, como açúcar. Quando a água da chuva passa, acaba levando tudo com ela.

Mas para onde nós estamos indo afinal ?

Existem duas possibilidades; Se nós permitirmos, estes solos voltam a infiltrar água, ao invés de escorrer. Com o tempo, estes solos então voltam a acumular nutrientes e teremos uma situação parecida com quando havia uma floresta cobrindo a região.

Também existe a possibilidade de degradarmos tanto os solos, a ponto deles não conseguirem reter mais nutriente algum e virarem um deserto. Existem várias áreas assim no nordeste, assim como na região sul.

Mas o nosso laboratório de erosão brasileiro tem mais casos agradáveis de lembrar.

Em Santa Catarina, há alguns anos, um agricultor ganhou um prêmio de conservação ambiental por estar construindo solos onde só havia pedras. Ele carregava composto orgânico para este lugar, e hoje já tem um solo de um metro de profundidade lá.

Também o Paraná teve durante um tempo um programa exemplar de conservação de microbacias. Este trabalho envolvia adequação de estradas,conservação de solos, replantio das áreas de preservação permanente entre outras. As microbacias eram planejadas como um todo para evitar erosão, independente da terra ser deste ou daquele. Afinal, a água não conhece cartório. Ela sabe só para que lado cai o morro.

Um belo dia o dinheiro do Banco Mundial parou de vir e o Estado do Paraná não teve a coragem de manter este programa. Afinal, a corte curitibana precisa manter sua fachada de cidade ecológica.

Como dizia Caetano Veloso, aqui tudo parece construção e já é ruína.

* É Ph.D. em Ecologia pela Harvard University, professor adjunto de Recursos Naturais da UEL e autor do Livro Biologia da Conservação.