Durante o Congresso Geográfico Internacional que acontece em Glasgow (Escócia) sob a organização da Royal Geographical Society e do Instituto de Geógrafos Britânicos, o professor da Universidade de Oxford Andrew Goudie alertou sobre a ameaça da crescente quantidade de poeira na atmosfera ao meio ambiente e à saúde humana. “A poeira é um dos componentes menos conhecidos da atmosfera da Terra e um dos que podem ter uma influência muito maior do que pensávamos na mudança climática”, disse Goudie, autor do estudo “Tempestades de poeira no sistema global”.
O cientista britânico afirmou que os primeiros efeitos sobre a saúde humana, a mudança climática e os recifes de coral já são notados e que, portanto, as autoridades científicas e sanitárias de todo o mundo devem começar a atuar. “A natureza transfronteiriça da poeira a torna um assunto realmente global e até agora não recebe a atenção que merece”, disse Goudie, que destacou que agora é fácil acompanhar as tempestades graças à tecnologia dos satélites.
Graças a esses recursos, explicou, foi possível localizar a principal fonte de poeira do mundo na depressão de Bodelé, no Chade (localizado na África Central, divisa com Nigéria e Sudão), e saber que em parte do norte da África a produção anual de poeira se multiplicou por dez nos últimos 50 anos. Também foram constatadas as longas distâncias que as partículas de poeira podem percorrer, do Saara até a Groenlândia ou da China até a Europa Ocidental.
O professor Goudie explicou que quando as partículas voltam a pousar na superfície salinizam o solo, transmitem doenças, afetam os períodos reprodutivos do mar, contaminam o ar e alteram a luminosidade da superfície terrestre compreendida entre o círculo polar e seu respectivo pólo. As secas, o aumento das pradarias, o desflorestamento ou algo tão como o uso de um jipe são algumas das causas citadas pelo cientista como fatores que alteram os depósitos de poeira que liberam partículas contaminantes.
Uma equipe da Universidade de Londres pretende viajar para o Chade em março de 2005 para fazer, na depressão de Bodelé, o primeiro trabalho de campo sobre a importância que essa região tem na evolução global da mudança climática. (Com informações do IG)