O Brasil, maior produtor mundial de frutas cítricas e de suco de laranja, consolida-se também, a partir deste mês, na liderança mundial nas pesquisas científicas do setor que movimenta US$ 10 bilhões por ano e gera US$ 1,5 bilhão de exportações. Pesquisadores de uma rede de instituições que fazem parte do projeto Instituto do Milênio, do MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia, encerram o mapeamento genético funcional e comparativo dos citros, um estudo que demorou dois anos e meio e custou R$ 4,4 milhões.
Os primeiros resultados serão discutidos nesta semana em um encontro de trabalho do grupo de pesquisa e os dados finais serão apresentados em outubro, durante uma reunião dos 15 Institutos do Milênio. Na pesquisa sobre citros, a única na área agrícola desta rede de projetos do MCT, foram feitas cerca de 200 mil seqüências de genes das principais frutas e suas variedades, com laranja, lima, tangerina e limão, um banco de dados quatro vezes maior do que qualquer outro existente até agora no mundo.
Entre os genes identificados estão, principalmente, os relacionados e resistentes às principais doenças e pragas da citricultura, bem como os que determinam uma maior resistência à seca e ainda outros ligados às diferentes características do fruto e do suco, como cor, teor nutricional e acidez, por exemplo. Na prática, os pesquisadores estão aptos a desenvolver variedades dessas frutas resistentes às doenças e pragas que ameaçam o parque citrícola brasileiro, o maior do mundo com cerca de 300 milhões de plantas cítricas.
Mais vitaminas – “As doenças e pragas são o gargalo e o fator limitante da citricultura brasileira, representam 60% do custo da fruta e explicam parte da nossa baixa produtividade. Se conseguirmos desenvolver uma variedade que seja bem tolerantes a elas, tudo que foi investido até agora em pesquisa será pago rapidamente”, afirmou Marcos Antônio Machado, coordenador do projeto e diretor do Centro de Citricultura Sylvio Moreira, da Secretaria da Agricultura do Estado de São Paulo (SP).
Machado salienta que o fato de o trabalho ser focado no genoma expresso e comparativo dos citros é fundamental para que sejam geradas informações específicas sobre essas doenças, como por exemplo o ponto exato da seqüência no qual está o gene relacionado a uma praga. Em seguida, é feita uma comparação com o mapa genético de uma planta cítrica sadia.
Apesar de ter como foco principal a guerra genética às doenças, os resultados das pesquisas possibilitarão ainda o desenvolvimento de variedades de frutas cítricas com mais vitaminas, com cores mais fortes, e até mesmo com o gosto preferido pelo consumidor. “Até agora, o cliente da fruta ou do suco tem de se adaptar ao gosto. No futuro, a indústria poderá se adaptar ao cliente e fazer um suco quase que personalizado”, explicou Gustavo Astua-Monge, um dos pesquisadores do projeto.
Além do Centro de Citricultura paulista, fazem parte do projeto mapeamento genético e funcional dos citros a Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, a Unesp – Universidade Estadual Paulista, a Unicamp – Universidade Estadual de Campinas, a UEM – Universidade Estadual de Maringá, no Paraná, o Instituto Biológico e a UFLA – Universidade Federal de Lavras, em Minas Gerais. (Estadão Online)