Metade de todas as espécies do planeta podem desaparecer nos próximos 50 anos

Um grupo formado por cientistas de diversos países acaba de divulgar resultados desanimadores de um amplo estudo feito com animais e plantas em risco de extinção. A conclusão não poderia ser pior. Segundo a pesquisa, publicada na edição de 10 de setembro da revista Science, outras 6,3 mil espécies estão ameaçadas de desaparecer se os organismos da qual dependem forem extintos.

A equipe, liderada por Lian Pin Koh, da Universidade Nacional de Cingapura, e por Robert Dunn, da Universidade do Tennessee, nos Estados Unidos, partiu de estudos anteriores, segundo os quais metade de todas as espécies do planeta podem desaparecer nos próximos 50 anos, para avaliar algo pouco lembrado: a coexistência das espécies.

Segundo os pesquisadores, os estudos sobre extinção global ignoram milhares de espécies afiliadas que também correm risco de desaparecer. Ou seja, a lista de espécies em extinção é muito maior do que se imaginava até então. “Estimativas atuais precisam ser recalibradas para levar em conta a coexistência da espécie”, escreveram os autores do estudo.

Os cientistas utilizaram um modelo baseado em dados reais para examinar as relações entre espécies “afiliadas” e “hospedeiras”, das quais as primeiras são dependentes. Após a compilação de uma lista com 12,2 mil plantas e animais consideradas ameaçadas, foram estudados diversas seleções de insetos, aracnídeos, fungos e outros organismos especialmente adaptados ao hóspede ameaçado. Os pesquisadores descobriram que outras 6,3 mil espécies deveriam ser classificadas como “também ameaçadas”.

“A conclusão é que com a extinção de um pássaro, por exemplo, não está sumindo apenas uma única espécie. Outras, completamente ignoradas, também estão sendo varridas do planeta”, disse uma das autoras do estudo, Heather Proctor, da Universidade de Alberta, no Canadá.

“Nosso objetivo foi tentar descobrir quantas espécies iriam desaparecer a partir da extinção de outras. Isso seria fácil se a relação fosse sempre de um para um, entre o hospedeiro e o afiliado, mas nem todos os parasitas, por exemplo, dependem de um único hospedeiro. A solução foi determinar quantas outras espécies poderiam atuar como hospedeiro e inserir esse grau de dependência no estudo”, disse Heather.

A pesquisadora canadense cita o exemplo de uma planta em Cingapura que, ao desaparecer do país, levou junto uma espécie de borboleta, a Parantica aspasia. “Quando algo do tipo ocorre, jamais poderá ser corrigido”, disse Heather.

O artigo Species coextinctions and the biodiversity crisis, de Lian Pin Koh, Robert Dunn, Navjot Sodhi (Universidade Nacional de Cingapura), Robert Colwell (Universidade de Connecticut, EUA), Heather Proctor e Vincent Smith (Universidade de Glasgow, Escócia), pode ser lido no site da revista Science, em www.sciencemag.org.
(Fapesp)