As plantas medicinais da Amazônia, que são usadas há séculos pelos povos da floresta, têm nas tradições populares a comprovação da sua eficácia. Mas o que antes era apenas comprovado pela experiência dos mais velhos, é agora atestado e repassado à população pelas instituições científicas.
É o que vai fazer a Embrapa Amazônia Oriental, uma unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento -, a partir da realização do curso de aperfeiçoamento em cultivo, manejo e manipulação de plantas medicinais, nos dias 05, 06 e 07 de próximo mês, em Belém.
O cultivo racional, ou de forma organizada, dessas plantas é o primeiro passo, e um dos mais importantes, no processo de obtenção de medicamentos. O pesquisador Osmar Lameira, doutor em Biotecnologia de Plantas, da Embrapa de Belém, desenvolve pesquisas com plantas medicinais na instituição desde 1997, sendo a primeira a propor como linha de pesquisa, além da coleta, conservação, avaliação e caracterização, o incentivo ao uso dessas plantas pela população. “O que antes era material em conservação passou a ser produto na área medicinal, na cosmética ou na aromática”, completa o pesquisador.
No horto da Embrapa Amazônia Oriental, que é o maior da região, há cerca de 250 espécies de plantas medicinais, o que segundo Osmar Lameira, ainda é pouco frente ao universo de 130 mil plantas catalogadas na Amazônia.
Algumas das plantas mais usadas na Amazônia e já comprovadas cientificamente são o capim-santo e a cidreira, recomendáveis como calmantes; a sacaca, para baixar o colesterol; o boldo, para os males do fígado; unha-de-gato, para o câncer generalizado; a folha da graviola, para o câncer de mama; e a copaíba e andiroba, como antiinflamatórios.
“A população sabe que tal chá serve para tal doença, mas desconhece a época que devem ser retiradas as folhas, quanto tempo devem ser postas para secar, quantas devem ser utilizadas de acordo com a quantidade de água, e também com o organismo do usuário”, afimar Osmar Lameira. Ele acrescenta ainda que 100% da população desconhece a maneira correta de manipular a planta e acaba tomando “água colorida”. “Os efeitos do uso incorreto podem ir de uma irritação gástrica, a um aborto, no caso da ingestão de arruda, durante a gravidez”, alerta o pesquisador.
Experiências – Para orientar a população de como cultivar, manejar, manipular e usar corretamente as plantas medicinais, o pesquisador Osmar Lameira e uma equipe multidisciplinar, que conta com farmacêutico, médico e agrônomo, e a parceria da Universidade Federal Rural da Amazônia e a Fundação Luiz Décourt, já realizaram cursos em diversos municípios do Estado, como Barcarena, Cametá, Novo Repartimento, Vigia, Baião, entre outros. A intenção é garantir através do uso da biodiversidade da região a melhoria da qualidade de vida da população local.
Entre as experiências da Embrapa Amazônia Oriental relativas à inclusão social através do melhor uso dos recursos naturais, está o trabalho realizado em parceria com o Sistema Penal de Americano, que começou no ano passado e deve durar mais quatro anos.
São treinamentos sobre manejo de plantas medicinais aos detentos da penitenciária agrícola de Americano, como uma alternativa de trabalho e renda no retorno ao convívio social. Osmar Lameira conta que já foi instalado um horto nas dependências do presídio e há intenções de recuperação de uma área para atividades agrícolas.
Além do cultivo, os detentos aprendem a fabricar xaropes, pomadas, cremes, sabonetes e xampus a partir dessas plantas.
Atualmente, as famílias que moram em Americano, cerca de duas mil, estão indo, através de seus líderes comunitários, até o presídio para “aprender com os detentos o manejo das plantas e preparação dos produtos. O grande triunfo disso é a aproximação entre comunidade e presidiários”, ressalta o pesquisador.
Curso – O curso de aperfeiçoamento profissional em agronegócio “Plantas medicinais: cultivo, manejo e manipulação” tem trinta vagas e é destinado a agricultores, técnicos, estudantes e pessoas interessadas no tema.
A carga horária é de 24 horas, distribuídas em três dias, com aulas teóricas e práticas, como a fabricação de produtos, na sede da Embrapa de Belém (Trav. Enéas Pinheiro, s/n). As informações e a ficha de inscrição podem ser obtidas na home page da Embrapa Amazônia Oriental (www.cpatu.embrapa.br) ou pelos telefones (91) 299-4690 e (91) 276-8952. (EMBRAPA)