Um grupo de cientistas norte-americanos reconstruiu quase integralmente o genoma de um antecessor dos mamíferos que viveu nas florestas da Ásia há 80 milhões de anos. Em um estudo publicado nesta terça-feira (30) pela revista Genome Research, os pesquisadores afirmaram que os resultados do trabalho derrubam a crença de que o DNA de qualquer ser vivo não possuía mais serventia depois de 50 mil anos.
Todos os mamíferos do planeta, inclusive o homem, descendem de uma espécie de mamíferos que viveu dezenas de milhões de anos antes do desaparecimento dos dinossauros. Essa espécie sofreu um rápido processo de diversificação, uma das quais levou aos atuais mamíferos de placenta.
Como todas estas espécies têm um antecessor comum, algumas seqüências específicas do DNA foram herdadas do ancestral e passadas adiante. No caso do homem, o genoma foi renovado em apenas 22% desde os tempos do antecessor comum a todos os mamíferos.
Os cientistas do Instituto Médico Howard Hughes, na Universidade da Califórnia (EUA), reconstruíram em 98% o genoma desse animal mediante a comparação de seqüências de DNA de 19 espécies existentes de mamíferos, incluindo seres humanos. Utilizando recursos da informática, os pesquisadores estudaram um gene regulador da fibrose cística.
Segundo David Haussler, que coordenou o grupo de pesquisadores, muitos “ficam com a boca aberta” quando descobrem que é possível reconstruir o genoma de uma espécie extinta há muitos milhões de anos com 98% de precisão. “Parece improvável, mas existe informação suficiente para recriar esse genoma ancestral” utilizando informações genéticas dos mamíferos de hoje. “Só precisamos da seqüência do genoma destes mamíferos viventes”, garante.
Haussler explica no artigo que a reconstrução do genoma era dificultada pelo fato de o DNA sofrer um processo de decadência depois de aproximadamente 50 mil anos. Por isso, os especialistas em genética desenvolveram a técnica da “paleogenomalogia informática com o fim de deduzir as seqüências genômicas de organismos extintos”, diz.
Haussler reccorre a uma metáfora automobilística para explicar o processo. Ele conta que mesmo quando evoluem com o tempo, os carros conservam algumas características comuns: quatro rodas, pára-brisas e um motor de combustão interna.
Haussler afirma que o conhecimento do genoma de um antecessor dos mamíferos de placenta abre “enormes possibilidades científicas”. Uma delas é a revelação da maneira como as seqüências de DNA mudaram até chegar ao das espécies de mamíferos da atualidade. Com este procedimento, “podemos ver onde se inseriu o DNA, onde desapareceu, onde houve substituições, e onde estas substituições não ocorreram no curso da evolução que desembocou nos seres humanos”, afirma no artigo. (Agência EFE / Terra.org)