Em meio a duras críticas disparadas pelos representantes dos governos dos países pobres contra os ricos, começou nesta segunda-feira (6) na capital argentina a 10.ª Conferência das Partes da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-10).
A cúpula, que reúne representantes de mais de 180 países, além de dezenas de ONGs e organismos inter-governamentais, está sendo o cenário de debates sobre as medidas a serem tomadas em todo o planeta para minimizar o impacto do aquecimento global.
A conferência debutou com uma marcada tendência dos países em desenvolvimento em acusar os países desenvolvidos de estarem fazendo poucos esforços para reduzir as emissões de gases que causam o efeito estufa, propiciando, desta forma, a permanência da tendência de aquecimento do planeta.
Cooperação – Durante a abertura da COP-10, Mohamed Jassim Al-Maslamani, representante do Catar, discursando em nome do Grupo dos 77 (G-77) mais a China, afirmou que é preciso que a cooperação internacional torne-se efetiva imediatamente, já que as mudanças climáticas ficam “cada vez mais críticas”.
Segundo ele, o impacto das mudanças climáticas recentes causou “prejuízos graves, especialmente para os países em desenvolvimento, onde o impacto foi desastroso a tal ponto que a frágil infra-estrutura social e econômica foi seriamente danificada.
Por este motivo, argumenta, é preciso que os países ricos façam uma urgente transferência de tecnologia aos países pobres. Segundo Al-Maslamani, os ricos precisam mostrar sua adesão aos compromissos: “Isso é essencial para as negociações futuras do segundo período do Protocolo”.
EUA e Kyoto – As principais críticas foram endereçadas aos Estados Unidos, país que assinou o Protocolo de Kyoto mas não o homologou. Desta forma, o maior emissor mundial de gases (responsável por 36,1% do total do planeta) não obriga as empresas instaladas em seu território a moderar suas emissões.
A secretária-executiva da Convenção de Mudança Climática, Joke Waller-Hunter, recordou que entre 1990 e o ano 2000, a redução anual de emissão de gases em países desenvolvidos foi de 6,6%.
No entanto, isso só foi alcançado graças aos países em desenvolvimento, que encolheram suas emissões em 40% nesse período. Os países altamente industrializados aumentaram suas emissões em 7%.
Adaptação – Outra tendência desta cúpula é a de não focalizar-se somente nas estratégias para reduzir a emissão de gases, mas também, a de como “adaptar-se” às mudanças climáticas que despontam como inevitáveis.
Esta postura é nova, e indica que muitos países já admitem que as mudanças climáticas nos últimos anos foram mais graves do que era esperado. Os ecologistas criticam esta postura, a qual consideram “fatalista”.
Resignação – Esse tom de resignação – segundo alguns – ou de pragmatismo – segundo outros – foi dado pelo próprio anfitrião do evento, o ministro da Saúde da Argentina, Ginés González García, em cuja pasta está a Secretaria do Ambiente.
García declarou, ao inaugurar a COP-10, que nesta cúpula serão debatidas duas estratégias: “Uma é a diminuição da contaminação e a outra é sobre como preparar-se perante o dano já produzido”.
O ministro destacou que as estatísticas são categóricas, e que demonstram o impacto das mudanças climáticas em nosso planeta.
“As conseqüências do aquecimento global estão acontecendo já. Temos que olhar para o futuro com a determinação de que é preciso fazer mais. É preciso mais solidariedade entre os países e entre as gerações de seres humanos”, disse. Depois, a modo de slogan, arrematou: “nós temos que mudar…para evitar que o clima mude”.
Arca de Noé – De forma paralela à COP-10, diversas ONGs estão realizando atividades para expor seu ponto de vista sobre as catástrofes climáticas.
A pole-position nas manifestações desta cúpula foi tomada pelo grupo Greenpeace, que chamou mais atenção do que a própria abertura da COP-10 ao colocar ao lado do Obelisco, o monumento-símbolo de Buenos Aires, uma simulação da lendária Arca de Noé.
A intenção do Greenpeace era a de realizar um alerta para os perigos do aquecimento global, que a longo prazo poderia causar uma inundação de diversas áreas do planeta.
O diretor da Greenpeace Argentina, Juan Carlos Villalonga sustentou que os negociadores dos governos reunidos na COP-10 deveriam levar em conta “os milhões de pessoas que perderão tudo o que possuem por causa dos desastres que o aquecimento global produzirá nos próximos anos”. (Estadão Online)