País precisa participar do Ano Polar, defende cientista

Primeiro brasileiro a chegar ao Pólo Sul Geográfico, o glaciologista Jefferson Cardias Simões desembarcou nesta quinta-feira (13) em Porto Alegre (RS), depois de dois meses na Antártida, defendendo a necessidade de o País enviar uma equipe nacional ao local durante o Ano Polar Internacional de 2007 e 2008. “Iniciamos uma nova fase do Programa Antártico Brasileiro”, disse, referindo-se à etapa que acabava de completar como convidado de uma missão chilena. “Mas a próxima fase deve ser o envio da nossa missão.”

Simões disse que o assunto deve entrar nas primeiras pautas do Comitê Nacional do Ano Polar Internacional, que está sendo montado neste ano. E admitiu que o projeto depende de apoios como o que teve da Petrobrás – Companhia Integrada de Petróleoe do CNPQ – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico para viajar com a missão chilena em novembro. “O custo é próximo de US$ 3 milhões”, avisou.

O pesquisador chegou de volta à sua cidade acompanhado do geógrafo Francisco Eliseu Aquino, que participou da missão mas ficou no centro de operações da base chilena de Patriot Hills. Lá, junto com 20 colegas, ele trabalhou no apoio à equipe de 13 pessoas (12 chilenos e Simões) que avançou 1,2 mil quilômetros até o Pólo Sul Geográfico, num caminho cheio de cordilheiras e fendas perigosas.

Esperada pelas mulheres, colegas da UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul e alunos, a dupla revelou estar cansada e admitiu que terá de passar por uma readaptação de uns cinco dias, depois de ter o metabolismo alterado pela altitude, sensação térmica de 52 graus negativos, ausência de escuridão e necessidade de ingerir 4 mil calorias por dia. “Comprei muitas frutas e verduras porque sei que ele está sentindo falta disso”, avisava Ingrid, mulher de Simões.

Perigos e fenômenos do gelo – Da experiência de passar 62 dias trafegando a velocidades de no máximo 15 quilômetros por hora, puxado por um trator adaptado à neve e ao gelo, até chegar ao objetivo, Simões lembrou de três perigos. O primeiro é o frio, que exige roupas e equipamentos adequados. O segundo é o branco total, que poderia fazer a equipe perder as referências geográficas. E o terceiro, o maior deles, atravessar fendas de gelo que poderiam engolir o comboio.

“A paisagem vai ficando monótona, mas há fenômenos óticos, halos e miragens”, recordou, citando o fenômeno conhecido como “chuva de diamantes” entre eles. Trata-se da passagem da umidade para o estado sólido quando o céu está sem nuvens. A luz passa pelos cristais e é refratada para todos os lados.

Proclamando que “a aventura acaba aqui e a ciência começa agora”, Simões informou que as amostras de gelo coletadas na Pólo Sul estão guardadas pelos chilenos em Punta Arenas e devem ser remetidas à UFRGS, onde ficarão em refrigeradores adequados, durante dois meses. O gelo conserva os componentes químicos da atmosfera de cada época. Amostras colhidas a 50 metros de profundidade permitirão analisar a composição química da atmosfera nos últimos 400 anos. Mas o resultado não sai logo. “As conclusões preliminares devem demorar um ano e as definitivas de dois a três anos”, avisou Simões.

Tanto Simões quanto Aquino ressaltaram a necessidade de estudar a Antártida e suas influências no ambiente brasileiro. “O equilíbrio climático planetário depende do encontro do calor dos trópicos com as frentes frias polares”, ressaltou Aquino. “Precisamos compreender o funcionamento desta cadeia e detectar possíveis alterações para evitar prejuízos às atividades humanas”. É por isso que, entusiasmados, os dois pesquisadores, querem ver o Brasil enviando cada vez mais seus estudiosos ao Pólo Sul. (Elder Ogliari/Estadão Online)