Começam estudos sobre sistema de alerta de ondas gigantes

As mais de 280 mil mortes provocadas pelas ondas gigantes que atingiram o sul da Ásia há exatamente um mês abriram o debate para a necessidade da criação de um sistema de vigilância de tsunamis. Durante a Conferência para a Redução de Desastres Naturais, na última semana, a ONU – Organização das Nações Unidas sinalizou a criação de um sistema de alerta para ondas gigantes para o Oceano Índico, com orçamento inicial estimado em US$ 30 milhões. A primeira fase estaria concluída em seis meses, sendo que o projeto segue para incluir a detecção de outros desastres naturais.

Para o professor do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (DF), Vasile Marza, o recente tsunami mostra que foi subestimada a importância de um sistema de alerta na região. Além da falta de um sistema de vigilância, Marza destaca a carência de canais de comunicação adequados dos países do sul da Ásia, além de a população não ser treinada para reagir em casos de desastres naturais. “O importante é criar a cultura da prevenção.”

A falta de preparo dos países do Oceano Índico para prevenir desastres naturais contrastam com os centros especializados em furacões e maremotos nos Estados Unidos e Japão.

A melhor solução, segundo Marza, é a criação de um sistema global de alerta de desastres naturais, pela redução de custos e pela maior troca de experiência entre cientistas. Ele estima que seriam necessários US$ 100 milhões para se montar um centro especializado em alertas. “Se houvesse recursos como as pesquisas espaciais têm, os problemas de previsão de desastres estariam sanados.”

Os Estados Unidos pretendem instalar nos oceanos 53 sensores no fundo do mar, estimados em US$ 250 mil cada, para checar a potencial geração de tsunamis. Seis deles já estariam em operação no Pacífico. No entanto, cerca de três quartos dos alertas são alarmes falsos.

O Japão é citado como exemplo de país que tem cultura de prevenção a desastres naturais. A população estaria familiarizada com a ocorrência de terremotos. Além disso, construíram paredões de concreto reforçado nas áreas mais vulneráveis a tsunamis para conter a força das ondas.

O doutor em geologia ambiental Roberto Fendrich, professor da PUC – Pontifícia Universidade Católica do Paraná, acredita que, no caso das ondas gigantes ocorridas na Ásia, mesmo com o sistema de alerta as pessoas não teriam tempo suficiente para saírem das áreas críticas. “Só quem estava distante teria tempo de correr e subir nas montanhas. Ou seja, os sistemas de prevenção dependem da velocidade em que ocorrem os fenômenos”, afirma. A postura da ONU em viabilizar um sistema de vigilância para a região do Índico é um bom começo, diz Fendrich. “A internet pode ajudar na comunicação. Só é preciso ter um sistema interligado na região.” (Keyse Caldeira – Gazeta do Povo/PR)