Devido a forte mobilização popular contra o projeto de integração do Rio São Francisco às bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional, o Ibama – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis decidiu cancelar, nesta segunda-feira (31), audiência pública para debater o processo de licenciamento do projeto na capital sergipana.
Em nota, o instituto disse que “o clima de hostilidade constrange o debate democrático e a diversidade de opiniões”. Quase cinco mil pessoas protestaram em frente ao Centro Federal de Educação Tecnológica de Sergipe, local onde a audiência aconteceria, contra o projeto. Com trios elétricos, faixas e camisetas com as seguintes palavras: “Transposição, não. Revitalização, sim”, trabalhadores, estudantes, sem-terras e políticos pediam que o governo recupere o Velho Chico, como o rio é chamado no Nordeste.
O diretor de licenciamento ambiental do Ibama, Nilvo Silva, lamentou a oposição ao debate do projeto. Essa era a segunda vez que o Ibama tentava realizar audiência em Aracaju. Ele disse que agora o órgão só marcará audiência se a sociedade estiver disposta a dialogar. “Não vamos mais marcar audiência se não houver forte sinalização da sociedade para o debate”, afirmou.
Para o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Sergipe, Antônio Góes, que participou do protesto, a integração está além da capacidade do rio e não possui vazão suficiente para doar água. “Você pega hoje peixe de água salgada a mais de 10 Km do mar para o rio”, explicou. Segundo ele, o Velho Chico é responsável por 70% da água consumida em Sergipe e a integração poderá ameaçar o abastecimento no estado e em Alagoas.
Já o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil no Estado, Henry Clay Andrade, acredita que a integração será “um golpe mortal ao rio”. Ele defende que o governo revitalize o rio e elabore estudo mais ampliado sobre o impacto ambiental da integração, antes de debater o projeto.
Não é a primeira vez que o Ibama cancela audiência sobre o projeto por causa de protestos. O mesmo ocorreu em Minas Gerais e Salvador (BA). Na próxima quarta-feira (2), será a vez de Maceió (AL) debater o projeto. (Carolina Pimentel / Agência Brasil)