Floresta amazônica fica 14% menor

O Imazon – Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia, uma instituição de pesquisa sem fins lucrativos e voltada para a promoção do desenvolvimento sustentável, vai divulgar nos próximos dias uma nova versão do estudo Fatos Florestais da Amazônia, apontado como um dos mais completos sobre a exploração da madeira na região.

Ele contém notícias ruins, algumas até assustadoras, e notícias boas. Também confirma que o país está atolado num imbróglio monumental nesse setor. Para se ter uma idéia, o mesmo Estado brasileiro que numa ponta da Amazônia cria reservas e mobiliza tropas para proteger a floresta tropical, em outra dá incentivos para derrubá-la.

O estudo do Imazon deve mostrar que 14% da floresta amazônica veio abaixo nos últimos 30 anos – o que dá a média de 0,5% ao ano. Na Amazônia Legal, com 5 milhões de quilômetros quadrados, quase 60% do território brasileiro, isso representa muito. “É um estado de Alagoas inteiro devastado por ano”, diz o ecólogo Adalberto Veríssimo, do Imazon.

Nem tudo que é devastado é aproveitado como madeira. Mesmo assim, de acordo com estimativas da organização, confirmadas pelo Ibama – Instituto Brasileiro de Meio Ambiente, cerca de 28 milhões de metros cúbicos de madeira deixaram a Amazônia no ano passado. Se o transporte dessa carga fosse feito apenas em caminhões de carroceria comum, com capacidade para 17 metros cúbicos, seriam necessárias 4.500 viagens por dia durante o ano inteiro, incluindo sábados e domingos.

Pelo menos metade da madeira – 14 milhões de metros cúbicos – vem de derrubadas feitas à margem da lei. “O desmatamento ilegal já está chegando a 55% do total”, alerta o diretor de florestas do Ibama, Antonio Carlos Hummel.

Legais ou ilegais, as toras que saem da floresta tropical estão empurrando as engrenagens de uma indústria cada vez mais próspera. O caso do Pará, que responde sozinho por 40% da produção madeireira da Amazônia, é exemplar. A madeira e os produtos obtidos a partir dela já figuram em segundo lugar na lista dos produtos exportados pelo estado. Perde apenas para os fabulosos negócios com minérios.

Os efeitos são visíveis também na balança comercial do país. As exportações de madeira sólida e dos produtos dela originários somaram US$ 3,8 bilhões em 2004 – uma variação de 44,4% em relação aos US$ 2,6 bilhões de 2003. Isso se deve em grande parte à Amazônia, de onde provém 80% da madeira nativa extraída no país, excluindo lenha e carvão.

Empregos – Estima-se que nos nove estados amazônicos a atividade madeireira movimenta quase 2.600 empresas e emprega 350 mil pessoas. “As serrarias constituem um dos negócios mais rentáveis da região, com uma taxa de retorno em torno de 60% – quase quatro vezes maior que a da pecuária”, diz Veríssimo.

O negócio é tão bom que a Cikel Brasil Verde, empresa que lidera as exportações no Pará, trabalhando apenas com madeira certificada pelo Ibama, deixou de lado a atividade pecuária. E é aqui que começa a parte das boas notícias. Ou das boas possibilidades.

Cresce a cada ano a quantidade de empresários interessados em trabalhar dentro dos princípios do desenvolvimento sustentado – que pressupõe a exploração da madeira de forma controlada, sem a degradação ambiental. Em 1997 quando o governo pôs à disposição o chamado selo verde, foram certificados 80 mil hectares de florestas na Amazônia. Hoje são 1,8 milhão de hectares – o que coloca o país em 5.º lugar no ranking dos países tropicais com áreas certificadas de acordo com padrões internacionais.

É pouco, quase nada, na vastidão amazônica, mas segundo especialistas de organizações não-governamentais e do governo, indica um caminho para conter a devastação. Atualmente quase 80% da área devastada na Amazônia é ocupada com a pecuária, estimulada pelo governo.

Pastagem – Ao chegar à região, os donos da terra oferecem a madeira que encontram às serrarias. Com isso formam seu primeiro capital e muitas vezes também ganham a primeira estrada para sua propriedade: estima-se que os madeireiros já abriram 3 mil quilômetros de estradas para tirar da mata a matéria-prima de seu negócio.

Depois disso, ateia-se fogo na área e forma-se o pasto. Para os ecologistas, seria melhor se o governo parasse de dar incentivos para o avanço da fronteira agrícola e estimulasse a exploração das florestas por meio do manejo sustentável. “Estamos desperdiçando recursos de maneira absurda”, acusa Paulo Adário, do Greenpeace. (Gazeta do Povo/PR)