Conclusão do inquérito do assassinato de Dorothy Stang deixa dúvidas no Pará

Apenas dezesseis dias depois do assassinato da missinária Dorothy Stang no município de Anapu, no Pará, as polícias Civil e Federal concluem nesta segunda-feira (28) o inquérito sobre a morte da freira. Apesar de já ter prendido cinco pessoas, o possível mandante do crime, o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, ainda está foragido. Líderes e técnicos atuantes na região afirmam que ainda há outros mandantes soltos.

Na sexta-feira (25), o delegado da Polícia Federal em Altamira (PA), Ualame Machado, explicou que o curto prazo para a entrega do inquérito poderia prejudicar as investigações, apesar das suspeitas de um possível consórcio, formado por grileiros, fazendeiros e madeireiros, para pagar os R$ 50 mil que teriam sido prometidos aos pistoleiros.

Para o frei Henri des Roziers, da Comissão Pastoral da Terra do Pará, a precipitação da conclusão do inquérito é suspeita. “É estranho precipitar a conclusão do inquérito já que ainda há muitas investigações a se fazer. Se o delegado quiser, ele consegue um prazo maior. Faz 15 dias que ela foi assassinada. Um inquérito tão difícil e grave como este, no qual – ao que tudo indica – há outros grupos poderosos envolvidos, não pode terminar tão rápido. Essa conclusão será que para dar uma satisfação superficial e populista à população.”

A preocupação com o encerramento do inquérito atinge também os ambientalistas. Segundo o coordenador de áreas protegidas da campanha da Amazônia do Greenpeace, Carlos Rittl, é fundamental que as investigações prossigam. “Se o inquérito for encerrado amanhã (segunda/28), esperamos que as investigações não parem. Havia muitos interesses econômicos na área e o término do inquérito pode precipitar uma conclusão inadequada, apenas parcial sem se chegar a todos os envolvidos. A irmã Dorothy apresentou denúncias com o nome de várias pessoas o Bida era apenas um deles. Ele não era o único interessado.

A existência de um consórcio para pagar os R$ 50 mil, não é descartada, mas, para o padre Henri, esse valor não é alto para os fazendeiros da região. Eles nem precisariam se juntar para obter a quantia. “Há um esquema muito maior do que se pensava. Às vezes os fazendeiros são multados em mais de R$ 160 mil em casos de trabalho escravo e pagam sem problema. Para eles, seria ridículo, então, se preocupar em quem iria pagar os R$ 50 mil.”

Frei Des Roziers acredita ainda que esse valor seria destinado apenas a pagar o serviço de execução. Para ele, Bida deve ter recebido uma soma maior para ficar como mandante. “Tem muito mais dinheiro envolvido. Para ter conseguido escapar, até agora, das polícias Civil, Federal e do Exército, o Bida não está sozinho. Ele certamente está com apoio de outras pessoas, pois é claro que nesse tipo de crime não é um pequeno como o Bida que vai estar por trás.”

Apesar da afirmação do delegado da Polícia Federal, Ualame Machado, de que não está descartada a existência do consórcio, o delegado da Divisão de Operações Especiais da Polícia Civil paraense, Valdir Freire, garante que até o momento não levantou nenhuma pista nesse sentido. “O que se pode falar é de reunião de pessoas para eliminá-la. E elas se limitam aos que já foram presos e ao foragido.”

Segundo ele, nesta segunda-feira termina o prazo legal para conclusão o processo apuratório, porque se completam dez dias da prisão do primeiro réu, Amair Feijoli da Cunha, o Tato, acusado de ser o intermediário do crime. Para o delegado, isso não impedirá a continuidade da investigação. “A polícia vai fazer a investigação complementar necessária para reunir provas que levem ao completo esclarecimento do caso”, promete.

O delegado não dá maior importância às acusações do frei Henri e do dirigente do Greenpeace. “Quem é incumbido de apurar, pela Constituição, é a Policia Civil. As outras entidades têm o direito de especular, mas nós temos a responsabilidade de apurar.” (Paulo Celso Pereira/JB Online)