O Pantanal, considerada a maior área alagável do mundo, está seriamente ameaçado por problemas como o aquecimento global e o desenvolvimento descontrolado da região, segundo estudo realizado pela UNU – Universidade da Organização das Nações Unidas em conjunto com o Prep – Programa Ambiental Regional do Pantanal, na sigla em inglês.
Em relatório divulgado nesta terça-feira (22), para marcar o Dia Mundial da Água, especialistas alertam para o que pode tornar-se “o próximo Everglades”, em uma referência à famosa área pantanosa do Estado americano da Flórida, cujo ecossistema foi prejudicado por atividades agrícolas.
De acordo com o documento, simulações realizadas por computador indicam que, se a temperatura da terra aumentar em até 4ºC, cerca de 85% das áreas alagáveis da Terra, incluindo o Pantanal, desaparecerão.
Paulo Teixeira de Sousa Jr., diretor do Prep e pró-reitor de pesquisa da UFMT – Universidade Federal do Mato Grosso, disse à BBC Brasil que ainda não existem dados “taxativos específicos” sobre como o ecossistema brasileiro reagiria. Mas, para ele, o aquecimento global é o que mais pesa entre os fatores que ameaçam o Pantanal.
Peculiar – “O Pantanal tem um ciclo hidrológico peculiar – passando metade do ano com águas baixas e a outra metade na cheia. Esse regime é determinante para o ecossistema da região e, se ele sofrer qualquer pertubação, pode haver sérias conseqüências”, afirmou Sousa Jr.
O diretor do Prep lembra que o Pantanal é uma região de estocagem e purificação de água, de proteção contra tempestades, e que atua fazendo o controle de enchentes e da temperatura. Ali vivem milhares de espécies, muitas delas em vias de extinção.
Além disso, áreas alagáveis hoje armazenam 17% do carbono emitido anualmente pela atividade humana. Mas, segundo o relatório da UNU, até 2100, “a biosfera terrestre, que hoje é um depósito de carbono, vai se tornar uma fonte de produção de carbono”.
Para Sousa Jr., o impacto da ação humana local não é “tão grave, pois ainda não é irreversível”. “Os problemas se dão na região que circunda o Pantanal e são causados pelo agronegócio – plantações de soja e de algodão, principalmente. Essas plantações, feitas em larga escala desde os anos 70, causam perturbações no solo e assoreamento dos rios, além de despejarem agrotóxicos que são drenados para os rios”, explicou o diretor do Prep. “Mas também há a poluição dos centros urbanos próximos e o crescimento populacional.”
Segundo ele, outro grande agravante foi a construção de uma hidrelétrica no rio Manso, próximo a Cuiabá (MT), que está perturbando o chamado “pulso de inundação” do Pantanal, que é o regime hidrológico da região.
Parcerias – Sousa Jr. destacou a importância de parcerias como as do Prep, que congrega universidades dos Estados do Mato Grosso e do Mato Grosso do Sul, além da UNU, para se tentar reverter a situação de ameaça ao Pantanal.
O programa inclui ainda organizações do Paraguai e da Bolívia, cujos territórios também contêm áreas do Pantanal. “Uma das nossas iniciativas foi formular um Tratado de Cooperação do Pantanal, que permitiria aos três países elaborar políticas públicas em sinergia”, disse.
O diretor do Prep elogiou o envolvimento da população do Pantanal nas questões ambientais que envolvem a região. “O que me deixa esperançoso é o alto grau de conscientização quanto à importância do uso sustentável do Pantanal.”
“Não temos o forte apelo internacional que tem a Amazônia, por exemplo, nem a densidade de cientistas e a quantidade de investimentos nacionais que tem a Mata Atlântica. É por isso que estamos trabalhando em rede e em cooperação com a UNU, numa tentativa de superar a carência de cientistas e de atenção internacional para o Pantanal”, concluiu. (BBC Brasil)