O Brasil possui 6 milhões de jovens, de 18 a 24 anos, trabalhando no campo. Deles, 1,8 milhão são analfabetos e 30% ganham menos de um quarto do salário mínimo. Os dados são do Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Sem opção, esses jovens estão migrando do campo para as cidades por falta de oportunidade. “Se o Luiz Gonzaga fosse reeditar sua música ele iria alterar: ao invés de narrar a família saindo do sertão, ele iria narrar os filhos da família saindo do sertão”, diz o coordenador de Políticas para a Juventude do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Fabiano Kempfer.
Para combater o êxodo rural, o governo federal criou dois programas específicos para a juventude. O primeiro deles se chama Consórcios Sociais para a Juventude Rural. Por meio dele, os jovens recebem capacitação para entrar no mercado de trabalho. Durante quatro meses, eles aprendem técnicas de produção de feijão, arroz, milho, farinha ou trigo.
Em troca, recebem uma bolsa de R$ 150 por mês e prestam trabalhos comunitários durante seis horas semanais em sindicatos ou cooperativas para passar à comunidade local um pouco do que aprenderam. Por último, cada jovem tem que elaborar o seu projeto produtivo, aquilo em que vai querer trabalhar.
Mas só a capacitação não basta. É preciso também investimento. Para isso foi criado um segundo programa. O Nossa Primeira Terra é uma linha de financiamento a juros mais baixos. O jovem pode financiar até R$ 40 mil para a compra da terra e até R$ 9 mil para o preparo do solo. “São programas para quem é da terra criar raízes, são instrumentos e garantias que o governo dá para o agricultor que deseja permanecer agricultor. Ele vai poder adquirir sua terra própria”, explicou Fabiano Kempfer. O programa Nossa Primeira Terra já atende 800 jovens.
O investimento do governo federal nos Consórcios para a Juventude Rural é de R$ 10 milhões em 2005. O projeto piloto, iniciado no ano passado em Pernambuco, atendeu a 55 jovens, que aprenderam a desenvolver sementes orgânicas de milho, com a tecnologia da Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. De acordo com o coordenador de Políticas para a Juventude, as sementes convencionais custam R$ 60 e as orgânicas R$ 150. Além do preço melhor para a comercialização, não usam agrotóxicos, têm maior potencial produtivo e fácil adaptação em diferentes climas, principalmente no semi-árido. “O agricultor não vai mais precisar comprar porque aprende a produzir e ainda pode vender as sementes”, afirmou. Em abril, o programa será lançado em 18 estados. O objetivo é atender 5.400 jovens.
Um desses jovens já beneficiados é José Manuel Flor, de 22 anos. Filho de cortadores de cana, ele trabalha desde os 16 nos canaviais de Pernambuco. E vê os programas como uma possibilidade de realizar seu sonho: continuar morando onde nasceu. “Antes, a juventude não ficava no próprio engenho, ia prá cidade grande, não tinha oportunidade. Com o programa, a gente começou a sonhar, não só os filhos dos trabalhadores, mas também os pais”, contou José Manuel.
Para apresentar os programas e ouvir os jovens está sendo realizado em Brasília (DF) o encontro Vozes Jovens. Mais de 100 pessoas participam. O evento é promovido pela Secretaria Nacional de Juventude, Banco Mundial e agências da ONU – Organização das Nações Unidas. O objetivo é estimular a participação da juventude na elaboração e implantação de políticas públicas e definir um plano de ação para os próximos 12 meses.
“Esse é um espaço muito importante de troca de experiência entre vários jovens. A juventude rural não tem sido contemplada, de forma geral, nas políticas do governo federal. Estava colocada como minoria e não é. No campo, a juventude representa 19% dos trabalhadores. Fizemos uma pesquisa e 60% dos jovens disseram que querem ficar na roça”, ressaltou a coordenadora de jovens da região Sul da Fetraf – Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar, Severine Macedo.
(Alessandra Bastos/ Agência Brasil)