Ao anunciar a liberação de R$ 137 milhões para projetos de desenvolvimento sustentável no Acre, o presidente do BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, Guido Mantega, afirmou que as críticas na imprensa internacional ao desmatamento na Amazônia são movidas por interesses outros que não o ecológico.
“Acho que existe má-informação e existem também outros interesses, muitas vezes, por trás de declarações a respeito das reservas naturais brasileiras”, afirmou Mantega, na segunda-feira (30). “Tem muita gente de olho nisso e aí ficam dando umas declarações atravessadas.”
Neste mês o governo federal se tornou destaque negativo no noticiário internacional após a divulgação pelo Ministério do Meio Ambiente de que a floresta amazônica sofreu o segundo maior desmatamento da história. Entre agosto de 2003 e agosto de 2004 foram destruídos 26,130 mil quilômetros quadrados de floresta. O recorde ocorreu em 1995, quando foram desmatados 29,050 mil quilômetros quadrados.
“Só gringos” – O governador do Acre, Jorge Viana, convidou Mantega a “quebrar um tabu” e visitar o Acre. “Já recebemos Al Gore e Danielle Miterrand, mas nunca tivemos a presença de um presidente do BNDES no Acre”, disse. “Depois, a gente reclama que os gringos dão palpite. Mas eles se interessam. Quem não se interessa são alguns companheiros daqui.”
Viana observou que Mantega foi o primeiro ministro do Planejamento (cargo que ocupou antes de assumir o BNDES) a visitar o Estado. Ele disse ter tido dificuldades para obter financiamento no BNDES durante o governo Fernando Henrique Cardoso e mesmo na gestão de Carlos Lessa, já no governo Lula. Com Mantega, porém, o projeto foi aprovado em menos de quatro meses, tempo considerado recorde.
Assentamentos – O dinheiro do BNDES servirá para a implantação da segunda fase do PIDS – Programa Integrado de Desenvolvimento Sustentável. O investimento é considerado por Mantega o maior projeto social do banco na região norte. O governo acreano investirá R$ 33 milhões, mas terá de pagar o financiamento no prazo de dez anos, com juros de 13,25% ao ano. Na primeira etapa do PIDS, iniciada em 2002, o Acre recebeu R$ 50 milhões do BNDES.
Uma das metas do programa é a criação de 11 assentamentos para trabalhadores agroflorestais e florestais. O governador do Acre, Jorge Viana, disse já ter assentado 800 famílias e prometeu assentar outras 1,5 mil até dezembro de 2006. Os assentamentos ficarão às margens de rodovias asfaltadas e serão integrados ao programa Luz para Todos.
Metas e fases – Outras metas são: crescimento em 80% das exportações do Estado (US$ 9 milhões em 2004); elevação da renda na atividade do manejo florestal comunitário e nos assentamentos florestais; ampliação das receitas próprias do Estado em mais de 30%; inclusão de 1,1 mil famílias na economia agroflorestal; e beneficiamento de mais de 4 mil índios em ações de capacitação e apoio à produção.
A Fase 2 do PIDS está dividida em quatro partes. A primeira, Fortalecimento do Turismo e Consolidação do Eixo Rio Branco-Peru-Bolívia, terá R$ 3,68 milhões para a implantar o Museu Memorial do Cruzeiro do Sul e o Museu Memorial Chico Mendes, em Xapuri. A segunda, Infra-estrutura Urbana, terá R$ 70,88 milhões para investimentos em transportes e recuperação do Mercado Municipal da Capital.
A terceira, Infra-estrutura Econômica e de Integração, contará com R$ 78,05 milhões para recuperação de estradas, construção de silos graneleiros e portos. A quarta, Desenvolvimento Social, disporá de R$ 17,1 milhões para estímulo a atividades esportivas e criação de bibliotecas especializadas em florestas tropicais. (Estadão Online)