A população urbana na Amazônia Legal quase triplicou entre 1980 e 2000, destaca um estudo publicado pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon): foi de 4,7 milhões de pessoas, ou 45% da população da região, para 13,7 milhões, ou 69%.
São 21 milhões de habitantes no total e uma infra-estrutura deficiente, como pode ser resumida a realidade habitacional urbana no maior bioma brasileiro, que cobre 49% da superfície do Brasil e onde as cidades incharam nas últimas décadas.
Os moradores deixam o campo progressivamente e buscam nas cidades melhores condições de vida, em um processo de migração regional muito parecido com o que aconteceu na zona costeira do País a partir das décadas de 1950 e 1960.
Contudo, assim como ocorreu em grandes centros “sulistas”, como Rio e São Paulo, poucos encontram a realidade que imaginam nas cidades da Amazônia.
O acesso às pretensas facilidades é para poucos e o consumo indiscriminado dos recursos naturais cresce sem planejamento.
Saneamento
Um exemplo é a questão do saneamento básico, item essencial para evitar que doenças infecciosas, como hepatite A, cresçam.
Segundo o pesquisador Valmir Santos, do Imazon, apenas 7% da população, em média, possui saneamento básico na região – a média no Sul e Sudeste é de 90%, diz -, o que evidencia um certo descaso com a questão da água.
Apesar de abundante (a bacia amazônica é a maior do mundo), a água é um recurso finito que precisa ser bem cuidado, porém a população e os governantes não se lembram disso, diz Santos.
“Há um padrão negativo de utilização. O consumo é exagerado. A população e o poder público tratam os recursos como inesgotáveis.”
Cidades Verdes
Santos coordena uma equipe do Imazon dentro do programa Cidades Sustentáveis, que pretende discutir a crescente urbanização da Amazônia.
Em um trabalho piloto realizado na Grande Belém (que tem 1,8 milhão de habitantes), eles desenvolveram indicadores de qualidade de vida distribuídos em questões socioambientais sobre transporte, áreas verdes, esgoto, lixo, esgoto, água e poluição (sonora e visual).
Descobriram que a quantidade de pessoas atingidas pelo poder público nesta área metropolitana tem diminuído, em vez de aumentar, e que a taxa de desmatamento mais do que triplicou.
Os fatores, diz, indicam que a região precisa repensar o modelo urbano a ser aplicado na região.
“É preciso também trabalhar a relação da cidade com a floresta, e montar projetos de médio e longo prazos, que não existem hoje.”
O pedido faz coro com o lema da Organização das Nações Unidas para o Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado neste domingo: Cidades Verdes: Planos para o Futuro.
Outros aglomerados
Agora, a equipe do Imazon começa a estender os indicadores para outras aglomerações urbanas da Amazônia, como Manaus (1,4 milhão).
Para Santos, o trabalho tem um caráter de urgência, pois “em toda a região é possível ver ocupações do campo, realizadas por movimentos sociais ou não”, forçando as pessoas a buscarem as cidades para viver.
“Existe um componente bastante peculiar, o incentivo à invasão de terras, especialmente na época próxima a eleições”, afirma. (Cristina Amorim / Estadão online)