Proteger o Uacari-de-Novaes (Cacajao novaesi) e o Uacari-branco (Cacajao calvus) – duas espécies de primatas que correm sérios riscos de extinção – é um dos principais objetivos da criação da RDS – Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Uacari, anunciada no início deste mês pelo governo do Estado do Amazonas. A nova reserva possui cerca de 611 mil hectares e localiza-se no município de Carauari (AM).
Consideradas como ameaçadas de extinção tanto pela IUCN – União Internacional de Conservação da Natureza como pelo governo brasileiro, as duas espécies raramente são encontradas juntas no mesmo território – o que acontece na nova RDS. Antes da criação da nova unidade de conservação, o Uacari-branco era protegido apenas na RDS de Mamirauá. O Uacari-de-Novaes, por sua vez, foi registrado apenas em alguns trechos de floresta de várzea ao longo do rio Juruá, tendo o comportamento e ecologia ainda muito pouco conhecidos.
“A iniciativa do governo do Estado do Amazonas em criar esta reserva é louvável, pois demonstra que as espécies ameaçadas são consideradas pelo Estado como um dos elementos importantes para selecionar as áreas que devem ser protegidas”, comenta José Maria Cardoso da Silva, vice-presidente de Ciência da ONG ambientalista Conservação Internacional.
Descrição das espécies – O Uacari-Branco é considerado um dos primatas menos conhecidos da Amazônia. Descrita em 1847, a espécie é encontrada exclusivamente em áreas de florestas inundadas da região amazônica e pode estar distribuída ao longo das várzeas dos rios Japurá e Juruá. Possui como características mais marcantes a face vermelha, a pelagem branca e a cauda curta.
O Uacari-de-Novaes foi descrito em 1987 pelo mastozoólogo norte-americano Philip Hershkovitz para homenagear o zoólogo brasileiro Fernando Novaes; ambos já falecidos. Novaes trabalhou durante anos no Museu Paraense Emílio Goeldi e foi um dos pioneiros na investigação científica sistemática sobre a fauna amazônica.
Considerado originariamente uma subespécie do Uacari-Branco, o Uacari-de-Novaes possui pelagem avermelhada e foi considerado recentemente como uma espécie distinta por apresentar grandes diferenças genéticas em relação às outras populações de Uacaris-Brancos. “Meus estudos indicam que o Uacari-de-Novaes está separado das outras populações de Uacari-Branco há pelo menos 2,5 milhões de anos”, explica a bióloga Wilsea Figueiredo, pesquisadora da Universidade Federal do Pará e responsável pela descoberta.
Importância da Reserva – A RDS do Uacari forma, juntamente com a Terra Indígena Rio Bia e a Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Cujubim, um mosaico de áreas protegidas com quase 4,5 milhões de hectares. Abriga cerca de 300 famílias – distribuídas em 15 comunidades – que se mobilizaram e solicitaram a criação da unidade de conservação ao governo do Estado.
“Essa reserva é muito importante para garantir a sobrevivência das populações tradicionais e de várias espécies animais raras e ameaçadas, tais como o peixe-boi, a ariranha e as duas espécies de uacaris”, comenta Francisco Ademar da Silva Cruz, Secretário-Adjunto de Extrativismo do governo do Amazonas e um dos líderes no processo de criação da reserva.
O governo do Amazonas criou, junto com a RDS do Uacari, mais três outras reservas: a RDS Rio Amapá, no município de Manicoré; a RDS Canumã e a Reserva Extrativista Guariba, no município de Borba. Juntas, as quatro reservas somam cerca de 1,1 milhão de hectares. Dados como este revelam como, nos últimos dois anos e meio, o governo do Amazonas duplicou – com o Programa Zona Franca Verde – de sete para quase 15 milhões de hectares a área de unidades de conservação estaduais. “Estamos dando uma receita ‘do bem’ para a conservação de nossas florestas. Melhoramos a cadeia produtiva florestal, fizemos a regularização fundiária, criamos novas unidades de conservação, estabelecemos diversas parcerias e fortalecemos a fiscalização ambiental”, enfatiza Virgílio Viana, Secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável do Estado do Amazonas. (Conservação Internacional.org)