O modelo de desenvolvimento rural adotado pelo Brasil, tem forçado o deslocamento da mão-de-obra do campo para as cidades, agravando o processo de êxodo rural. Estudiosos afirmam que a crise do setor agrícola expulsou do campo, nos últimos 15 anos, 400 mil trabalhadores rurais. Esse segmento necessita uma política especial para a sua inserção no processo de modernização produtiva permitindo assim, o retorno ao crescimento econômico que o país tanto precisa.
Visando contribuir para a inserção e manutenção sustentável de grupos organizados de produtores familiares nas cadeias produtivas do agronegócio, pesquisadores da Embrapa Suínos e Aves (Concórdia – SC), unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, liderados pelo pesquisador Valdir Silveira de Ávila, área de produção e manejo de aves, instalaram e conduziram cinco unidades demonstrativas de frangos coloniais, em parceria com o escritório regional da Emater/RS da cidade de Erechim – RS.
Levantamentos da pesquisa apontam a existência de centenas de famílias vivendo em condições de extrema miséria, municípios da Região Sul. Segundo esses pesquisadores, na região urbana, a miséria pode ser observada no cotidiano do cidadão, mas na zona rural, o aparecimento da subnutrição adulta e infantil é uma novidade, explicou Ávila.
Outro fato, observado, é a crescente procura por produtos livres de resíduos de agrotóxicos ou orgânicos, com qualidade diferenciada na textura e no sabor e baseado em modelos de produção sustentáveis, sob o ponto de vista ambiental, social e econômico.
Hoje, já existem um movimento ecológico, formado por ONGs e associações de produtores ecológicos, cujo trabalho possibilita a aquisição de produtos orgânicos e contribui para ampliar esse crescente nicho de mercado. “E, além disso, existe também um variado cenário de organizações de produtores (assentados das barragens, assentados do Incra e pequenas cooperativas de agricultura familiar) que num esforço crescente, têm demandado novas tecnologias e maior ajuste daquelas disponíveis para esse estrato social” – esclarece Valdir.
O pesquisador explicou que a motivação para o desenvolvimento desse trabalho, realizado pela Embrapa Suínos e Aves em conjunto com a Emater/RS, foi contribuir de forma efetiva para a inserção e manutenção sustentável de grupos organizados de produtores familiares nas cadeias produtivas do agronegócio, através da capacitação de técnicos e produtores, com vistas à adoção de tecnologias que possibilitam a produção profissional de frangos de corte em sistemas alternativos de criação.
Valdir Ávila ressalta ainda, que a pesquisa também visa:
– contribuir no atendimento das demandas por frangos de corte produzidos exclusivamente a partir de ingredientes de origem vegetal, sem o uso de promotores de crescimento e sem agredir o meio ambiente, privilegiando o bem-estar animal e a geração de renda para que o agricultor e a família permaneçam no campo com melhoria na qualidade de vida;
– demonstrar técnicas para a produção do frango colonial em pequenas propriedades que praticam a agricultura familiar, como forma de treinamento aos técnicos e produtores;
– validar e transferir tecnologias em nutrição, manejo, bem-estar animal, sanidade/biosseguridade, contemplando a utilização de sobras de produtos (hortaliças, frutas e tubérculos) e alimentos produzidos, contribuindo para viabilizar a pequena propriedade, numa perspectiva sustentável de produção de frangos coloniais como alternativa de alimentação e fonte de renda;
– demonstrar que a criação de frangos em parques, semelhante ao sistema confinado, requer cuidados de manejo e controle sanitário (biosseguridade) que assegurem a saúde das aves e a higiene dos produtos para o consumo humano;
– que as boas práticas de produção minimizam os riscos de contaminação dos produtos para consumo e proliferação de doenças que interfiram em outras criações e/ou atividades dentro da propriedade ou em propriedades vizinhas.
De acordo com Ávila, os resultados mostram que é possível alcançar desempenho compatível aos obtidos pela pesquisa na produção de frangos coloniais em pequenas propriedades. A produção profissional e organizada de frango diferenciado se insere bem nas pequenas propriedades podendo ser uma alternativa para a geração de renda familiar e manutenção do homem no campo.
(Tânia Maria Giacomelli Scolari / Embrapa)