Eles não só avisam que há um predador por perto como também dão pistas sobre o tipo de ameaça – se o inimigo está parado ou em movimento, se é grande e pouco ágil, ou se é menor, mais ágil e por isso bem mais perigoso. Esse tipo de grito de alarme complexo era considerado coisa que apenas primatas – o homem e seus primos macacos – faziam.
Agora, pela primeira vez, cientistas demonstraram que um simples passarinho, o chapim-de-cabeça-negra, tem um sofisticado sistema de alerta. O passarinho, cujo nome científico é Poecile atricapillus, despertou a atenção do hoje aluno de doutorado Christopher Templeton ao reagir em um aviário à presença de predadores.
Templeton e seu então orientador de mestrado na Universidade de Montana, Erick Greene, projetaram então experimentos para verificar se os chapins teriam modos distintos de comunicação sobre tipos diferentes de predador.
Os chapins são chamados em inglês de “chickadees”, palavra que é uma onomatopéia do seu trinado (como é o caso do brasileiro “bem-te-vi”). Os pesquisadores notaram que o canto do pássaro ficava mais longo de acordo com o maior perigo representado pelos predadores – algo como “chick-a-dee-dee-dee etc”.
No caso de um predador particularmente perigoso – uma coruja pequena, muito mais ágil que uma pesadona, o chapim poderia adicionar até 23 “dees” (pronuncia-se “dis”) ao seu canto básico, segundo Templeton. É mais uma amostra de que os embriões da linguagem estão presentes nos animais.
O estudo foi publicado na edição desta sexta-feira (24) da revista científica americana “Science” por Templeton, Greene e Kate Davies, que trabalha em um centro de reabilitação de aves e ajudou por seu trabalho com as aves de rapina. (Ricardo Bonalume Neto/ Folha Online)