Ainda está longe o dia em que a seca no Nordeste brasileiro deixará de ser um problema. No entanto, uma solução contra a evaporação de água nos açudes – um dos vilões da escassez – tem mostrado bons resultados em testes de campo e pode contribuir para acelerar a mudança de cenário.
O produto em questão é um pó composto por surfactantes (que reduz a tensão superficial de uma solução) e calcário. Jogada na água, a mistura forma um filme que diminui a rugosidade da superfície e, por conseqüência, a área exposta aos elementos que aceleram a evaporação. O filme ultrafino forma também uma espécie de barreira protetora entre a água e a atmosfera, sem prejudicar as trocas gasosas.
“O método se encaixa na definição de tecnologia ambientalmente saudável proposta pela Agenda 21 da Organização das Nações Unidas”, disse Marcos Gugliotti, diretor científico da empresa Lótus Química Ambiental, à Agência FAPESP.
Coordenador do projeto Desenvolvimento de mistura antievaporante para a conservação de água doce, financiado pela FAPESP dentro do Programa Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (PIPE), o pesquisador está a caminho de Brasília para testar o produto nos espelhos d’água do Congresso Nacional e do Superior Tribunal de Justiça.
Os primeiros testes foram realizados na represa do Broa, em São Carlos, interior de São Paulo. O pó é espalhado manualmente na superfície da água, apenas com o auxílio de uma pá, luvas e uma máscara para evitar a inalação.
Segundo Gugliotti, o custo do produto é de R$ 20 o quilo, quantidade suficiente para cobrir uma área de 10 mil metros quadrados. A reaplicação deve ser feita a cada 48 horas em média. “A eficiência varia de acordo com o ecossistema. Áreas com alta concentração de bactérias e muito vento diminuem o tempo de ação do pó”, afirma. A redução da evaporação de água pode chegar a 50%.
Em lugares onde a água é escassa e a evaporação alta, o retorno financeiro do investimento alcançaria 100%. “A água tem um custo e a sua perda implica prejuízos econômicos para a região”, disse Gugliotti, que pretende começar os testes de longa duração nos açudes nordestinos em 2006. Segundo ele, essa tecnologia é até dez vezes mais barata do que a dessalinização, técnica comumente empregada para obtenção de água doce no Nordeste. (Karin Fusaro / Agência FAPESP)
foto: Marcos Gugliotti – Filme ultrafino cobre parte da superfície da água na represa do Broa, em São Carlos