A criação de abelhas nativas, sem ferrão, será ampliada na Floresta Amazônica. Seis comunidades da região de Parintins (AM), cidade mais conhecida por seu festival popular semelhante ao Carnaval, foram selecionadas pelo governo federal para aderir ao projeto, que tem como objetivo gerar renda para os trabalhadores e, ao mesmo tempo, fortalecer a biodiversidade amazônica por meio da polinização.
Os moradores se reuniram com técnicos e entidades na comunidade de Menino de Deus do Paraná, em Parintins, para iniciarem o treinamento necessário, no final de julho. A capacitação foi dada pelo INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), do governo federal, e pela organização não-governamental GRANAV (Grupo Ambiental Natureza Viva), que ajudam comunidades da região da várzea amazônica a criar abelhas nativas do Brasil.
Esses insetos são de um tipo que não pica e não possui ferrão: a família dos meliponíneos, que abriga cerca de 190 espécies. Criadas em “caixinhas”, essas abelhas não exigem a utilização de roupas especiais, o que barateia a produção de mel.
As duas entidades começaram a trabalhar juntas a partir de uma troca de experiências promovida pelo ProVárzea/Ibama (Programa de Apoio ao Manejo dos Recursos Naturais da Várzea), que tem o apoio do PNUD. O Grupo de Pesquisas em Abelhas do INPA atua em quatro comunidades do Estado. Três delas são aldeias indígenas: Marajaí, no município de Alvarães, da tribo mayoruna; Murutinga, em Autazes, dos índios mura; e Vila Nova Doandira, entre as cidades de Parintins e Maués, da tribo saterê-mawe. A quarta é um assentamento de reforma agrária, montado pelo INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), chamado Comunidade Panelão, em Careiro do Castanho. O GRANAV atua nas comunidades de Menino de Deus do Paraná e Perpétuo Socorro.
As comunidades de Parintins que entrarão para o projeto são: Bom Socorro, Santa Rita da Valéria, Nova Olinda, São José, Santíssima Trindade e Santo Antônio do Piracajá. Depois da capacitação inicial feita pelas duas entidades, o trabalho agora segue sob a coordenação do GRANAV.
As comunidades escolhidas, como deverá acontecer em Parintins, recebem capacitação contínua para aprender a implantar e multiplicar os criadouros, criar as abelhas, manusear e embalar o mel e o pólen da melhor forma possível, respeitando as normas de higiene. O processo de aprendizagem é longo, afirma a coordenadora do Grupo de Pesquisas do INPA, Gislene Carvalho-Zilse. “Dominar essa técnica demanda muito tempo. A Amazônia possui um ciclo de secas e chuvas muito marcado, com pragas diferentes em diferentes épocas do ano. Não é possível então fazer o treinamento em apenas uma época do ano. O trabalho precisa ser contínuo e durar cerca de um ano e meio a dois anos”, explica.
O trabalho também envolve a pesquisa de quais plantas são polinizadas por essas espécies. O objetivo é que, para fortalecer o desenvolvimento das abelhas, as comunidades passem a proteger mais os vegetais selecionados pelos insetos e a cultivá-los em maiores números.
O mel produzido tanto nas comunidades apoiadas pelo INPA quanto nas do GRANAV é utilizado na alimentação das famílias. A produção extra é vendida, também com o apoio das organizações, gerando renda e fortalecendo os grupos. O trabalho, no entanto, traz um benefício extra, de acordo com a coordenadora Gislene Carvalho-Zilse. “As abelhas são responsáveis pela polinização de 90% das plantas nativas da várzea amazônica. Assim, o manejo racional delas traz como conseqüência a proteção de toda a rede de biodiversidade local”, afirma. “A melhoria no tratamento das abelhas resulta em mais plantas, que por sua vez alimentam os animais da floresta e daí por diante”, explica.
O INPA lançou em junho passado uma cartilha sobre a criação de abelhas dessa família, elaborado pelo Grupo de Pesquisas em Abelhas e editado pelo ProVárzea/Ibama. O GRANAV, por sua vez, publicou um livro com a história da entidade, desde sua fundação, também com o ProVárzea.
(Marília Juste / PrimaPagina)