O crescimento do número de idosos no mundo acarreta, entre outros problemas, o gradativo aumento de doenças e complicações nesta faixa etária. Os diversos tipos de tumor preocupam os pesquisadores, já que são responsáveis por grande número de óbitos em pacientes idosos ou não. Em mesa redonda realizada durante o 43º Congresso Científico do HUPE, no Hospital Pedro Ernesto, no Rio de Janeiro, profissionais especializados reuniram-se em torno do tema Câncer no Idoso para debater formas de prevenção e tratamento para alguns tipos da doença, em pacientes a partir dos 60 anos.
O número de casos e de óbitos por tumores aumenta com o avanço da idade. No entanto, a elevada prevalência de determinados tipos de câncer entre idosos poderia ser evitada a partir da diminuição dos fatores de risco associados a doença. De acordo com Moyses Szklo, médico da Universidade John Hopkins (EUA) e professor da UERJ, entre os principais fatores de risco estão: uma dieta pobre em fibras e alimentos antioxidantes, mas rica em gordura animal; o tabagismo e a presença de infecções – causadas por HPV e H. Pylori (bactéria que causa úlcera), por exemplo. “Uma questão específica é o auto-exame da mama. Estudos recentes comprovam que não há eficácia neste método de prevenção. No entanto, o exame clínico realizado por um médico especializado é altamente indicado e, em determinados casos, pode substituir um exame de alto custo, como a mamografia”, afirmou.
O câncer de próstata é o que mais acomete indivíduos idosos, do sexo masculino. Ele corresponde a 9,7% de todos os tumores que podem atacar homens em idade avançada. De acordo com Ronaldo Damião, professor da Disciplina de Urologia da UERJ, “a prevalência deste tipo de câncer entre negros americanos é muito alta quando comparada, por exemplo, aos chineses. Não sabemos ainda o motivo, mas os fatores ambientais são relevantes no processo. Pesquisas indicam que a segunda ou terceira geração de imigrantes orientais nos Estados Unidos já começa apresentar casos da doença”, disse Damião. Segundo dados do Inca, Instituto Nacional do Câncer, em 2005 serão diagnosticados 467.500 novos casos de câncer, sendo 46 mil de próstata. Analisar o histórico familiar do paciente é muito importante para realização do diagnóstico precoce da doença. “Um homem que possui o pai ou um irmão com câncer de próstata tem 2,5 vezes mais chances de desenvolver a doença, quando comparado àquele que não possui nenhum membro da família com o diagnóstico. Já em um indivíduo que possui três membros próximos com histórico da doença, as chances de desenvolver este tipo de tumor aumentam em sete vezes”, afirmou o professor.
A dosagem do PSA (Antígeno Prostático Específico) permite indicar se existe a probabilidade do desenvolvimento de tumor nesta região. Quando este fator ultrapassa 4ng/ml, a suspeita de câncer é mantida e este paciente é monitorado. Caso chegue a 10ng/ml, a biópsia sempre será indicada. O tratamento da doença inclui a retirada da próstata associada à radioterapia. De acordo com o médico, “alguns tumores da próstata são dependentes da testosterona. Nestes casos, tentamos suprimir a produção do hormônio para melhorar a qualidade de vida do paciente. Isto pode ser feito através da retirada dos testículos ou de administração de estrogênio, mas a retirada do órgão deve ser sempre bem analisada para que ele não adquira uma nova doença, já que pode levar a perda da libido e osteoporose”. Como fator de prevenção, Damião indica o consumo de alimentos ricos em ômega 3, selênio, e vitamina B. Também é necessário evitar o álcool, o fumo e controlar o excesso de peso.
O alto consumo de gordura de origem animal está entre os principais fatores associados ao câncer colo-retal. Segundo dados do Instituto Nacional do câncer, até o final desse ano serão registrados 2.500 novos casos da doença somente no município do Rio de Janeiro. O fator hereditário também é expressivo nos tumores que acometem esta região. “Aproximadamente 50% dos descendentes de pacientes com histórico de tumor no intestino desenvolverão a doença”, afirmou o médico Francisco Lopes Paulo, membro da Sociedade Brasileira de Coloproctologia. A colonoscopia, exame capaz de detectar lesões no intestino, é indicada para pacientes com história familiar da doença, dificuldade para evacuar e presença de sangramento nas fezes. “Os pólipos encontrados, malignos ou não, são sempre retirados. O paciente é orientado a repetir o exame daqui a um ano, caso seja encontrado algum tipo de lesão”, diz o médico. O tratamento consiste na associação da radioterapia, quimioterapia e retirada cirúrgica do tumor. “No caso de um indivíduo jovem, retiramos toda a porção do intestino onde o câncer se encontra, para evitar uma recidiva. Em pacientes idosos não é necessário, já que, devido à idade avançada, não haverá tempo para que outra alteração neoplásica se desenvolva naquele local”, orientou Francisco.
O médico Walter Roriz, do Instituto Nacional do Câncer, destacou a importância de tratar o idoso, apesar de sua maior susceptibilidade aos efeitos tóxicos dos medicamentos. “No caso de câncer de pulmão em idosos, além do procedimento cirúrgico, é possível fazer o tratamento a partir de drogas de terceira geração, como Vinorelbina, Gemcitabina ou Taxane. O tratamento em pacientes com idade avançada pode apresentar maiores efeitos relacionados à toxidade dos medicamentos, mas não deve ser descartado. A melhora na qualidade de vida dos pacientes depende de um tratamento bem orientado e eficaz”, disse o médico.
Fonte: Agência Notisa