Dente-de-sabre não era tigre, sugere análise de DNA

Está na hora de mudar de vez o nome popular de alguns dos maiores predadores que já aterrorizaram a Terra. Segundo uma análise recente de DNA, os dentes-de-sabre continuam tão terríveis quanto antes, mas não são tigres coisíssima nenhuma. Aliás, nem felinos são.

A reviravolta, publicada no começo do mês na revista científica “Current Biology” (www.current-biology.com), é um daqueles raros casos em que fósseis e genes estão entrando em acordo, depois de anos batendo cabeça. Antes, a morfologia do esqueleto parecia indicar que os dentes-de-sabre eram parentes mais distantes dos felinos, enquanto o DNA sugeria que eles eram próximos dos leões e tigres modernos.

“Os dentes-de-sabre definitivamente são gatos, mas parecem ter sido os primeiros a se separar do resto da árvore genealógica”, contou à Folha de São Paulo o especialista em evolução molecular Ross Barnett, da Universidade de Oxford, no Reino Unido. “Imagina-se que eles tenham tido um ancestral em comum com os gatos modernos há uns 15 milhões de anos”, completa Alan Cooper, da Universidade de Adelaide, Austrália. A dupla coordenou o estudo.

Predadores corpulentos, fortes e bem-sucedidos, os dentes-de-sabre e seus imensos caninos em forma de adaga colonizaram quase todos os continentes, da África à América, até desaparecer há uns 10 mil anos. Para sua análise, os pesquisadores obtiveram mtDNA (o DNA mitocondrial, presente nas mitocôndrias, as usinas de energia das células) de duas espécies deles, o Smilodon populator, comum no Brasil, e o Homotherium serum, da América do Norte. Depois, compararam as “letras” químicas do mtDNA com as de vários felinos vivos, como leões, jaguatiricas e guepardos.

A análise mostrou que os dentes-de-sabre ainda são os parentes mais próximos dos gatos vivos hoje, mas ficam de fora dos felinos, numa subfamília à parte. “É uma proposta muito sólida, com base no trabalho de muitos paleontólogos”, diz Barnett.

De quebra, os pesquisadores esperam ter resolvido outro mistério: a verdadeira natureza do Miracinonyx trumani, o chamado guepardo americano, hoje extinto. Acreditava-se que esse felino fosse primo-irmão do guepardo africano, o mais veloz bicho terrestre, que corre a 110 km/h.

Mas o mtDNA sugere que ele é só uma versão corredora da onça-parda, ou puma. “É uma convergência fantástica, que explica porque o animal ainda não tinha sido entendido”, diz Cooper. (Reinaldo José Lopes/ Folha Online)