A maioria dos especialistas em furacões e ciclones continua cética em relação a uma possível ligação entre aquecimento global e o maior poder destrutivo de fenômenos como o Katrina. Mas um artigo publicado recentemente na revista Nature mostra que esta visão está começando a mudar.
O estudo conclui que a força destrutiva dos furacões e ciclones aumentou em 50% ao longo dos últimos 50 anos, e que uma elevação na temperatura – relacionada ao aquecimento global – está na causa desta mudança, pelo menos parcialmente.
“Eu era um daqueles céticos, até o ano passado”, confessa o meteorologista Kerry Emanuel, do MIT – Instituto de Tecnologia de Massachusetts (EUA), autor do estudo.
Depois de analisar dados coletados por aviões de pesquisa sobre ciclones no Pacífico e furacões no Atlântico, Emanuel passou a considerar uma tendência de elevação na velocidade dos ventos e na duração das tempestades.
“Estamos começando a pensar seriamente se não há um sinal (de aquecimento global) nisso, e acho que vamos ter de pensar muito mais neste tema nos próximos anos”, disse ele.
Previsões – No Atlântico, dos últimos 11 anos, 9 tiveram temporadas de furacões mais intensas do que o considerado normal, de acordo com a Noaa – Administração Nacional Oceânica e Atmosférica. Em agosto, a Noaa elevou as suas já altas previsões de tempestades tropicais para este ano: devem ser 21, e não 18, das quais 11 devem se converter em furacões. Destes, 5 a 7 serão dos mais fortes.
Se confirmadas as previsões, 2005 será um dos anos mais violentos em termos de furacões em toda a história. Uma temporada típica no Atlântico tem seis furacões.
Entretanto, a agência não liga este agravamento dos furacões ao aquecimento global. Seus técnicos acreditam que o mais provável é se tratar de uma confluência natural de condições oceânicas e atmosféricas cíclicas. Isso produziria tempestades tropicais mais fortes a cada 20 a 30 anos.
Se mudanças climáticas causadas pelo aquecimento global têm algo a ver com os furacões mais fortes, isso teria um peso muito pequeno, segundo os especialistas da Noaa.
Cone Sul – Para Michel Jarraud, secretário-geral da OMM – Organização Meteorológica Mundial, “parece que, sim, há incidência da mudança climática na intensidade dos furacões, devido ao aquecimento global”. E ele adverte para um aumento da intensidade dos furacões e da freqüência dos ciclones extratropicais em áreas temperadas, como o Cone Sul.
Em reunião científica de meteorologistas em Montevidéu, nesta semana, ele ressalvou que os dados sobre essa influência ainda não são conclusivos, mas espera “obter confirmações nos próximos anos.” O brasileiro Divino Moura, afirmou no encontro que existem estudos indicativos, “muito preliminares”, de que Brasil, Argentina e Uruguai podem ter “uma sucessão de ciclones extratropicais”. (Estadão Online)