Atividades humanas como o desmatamento e a construção de represas causaram drásticas mudanças nos lagos africanos, e alguns deles sofreram uma redução de até um metro em seu nível de águas. É o que mostra um atlas apresentado na Conferência Mundial dos Lagos, aberta na segunda-feira (31) em Nairóbi, no qual imagens de satélite recentes foram comparadas com outras antigas sobre o estado de lagos como o Songor, em Gana, que está diminuindo rapidamente, e o Chade, que diminuiu cerca de 90%.
O encontro reúne na capital queniana cerca de 500 especialistas e cientistas do mundo todo para discutir formas sustentáveis de gerir as reservas de água doce. “Espero que as imagens gerem um alarme no mundo, pois se quisermos superar a pobreza e alcançar os objetivos estipulados internacionalmente para 2015, a gestão sustentável dos lagos tem de ser parte da equação”, disse Klaus Toepfer, diretor do Pnuma – Programa da Organização das Nações Unidas para o Meio Ambiente, que editou o atlas.
Apesar de ter o maior volume de águas lacustres do mundo, a África sofre com a construção de represas, a poluição industrial, o despejo de resíduos sem tratamento e o desmatamento. Tais atividades têm influenciado fortemente a situação dos lagos africanos. Uma das mudanças mais visíveis foi observada no lago salobre Songor de Gana, hábitat de milhares de aves e de duas espécies de tartarugas ameaçadas de extinção. Em dezembro de 1990, as imagens mostravam uma massa aquática de 74 quilômetros quadrados, e as fotografias do ano 2000 revelam uma diminuição considerável, que o Pnuma atribui à produção intensiva de sal e à extração de água dos rios afluentes do lago, como o Sege e o Zano.
Outro exemplo é o Lago Vitória, onde o nível de água diminuiu um metro na última década, segundo as imagens de satélite. Localizado entre Uganda, Quênia e Tanzânia, o Vitória, origem do rio Nilo, é o maior lago da África e mais de 30 milhões de pessoas vivem em suas margens. No Senegal, a área que cerca o lago Djoudi mudou significativamente desde a construção, em 1986, da represa Diama.
Às vésperas da inauguração da conferência, os cientistas africanos lançaram uma iniciativa para impulsionar os esforços destinados a proteger os lagos do continente. Em nota publicada ontem na imprensa local, os especialistas advertiram que cinco importantes lagos africanos – Vitória, Tanganyika, Malawi, Chade e Tana – podem se transformar em lodaçais nas próximas décadas se nada for feito para salvá-los. Todos estão perdendo água “a um ritmo alarmante”, ressaltaram os cientistas. A Conferência Mundial dos Lagos irá até a próxima sexta-feira (4). (Gazeta do Povo/PR)