LONDRES — O brasileiro Marcio Cabral foi um dos vencedores da edição deste ano do Wildlife Photographer of the Year, considerado o principal concurso internacional de fotografia de natureza. O anúncio foi feito na noite desta terça-feira, em evento realizado no Museu de História Natural de Londres, que organiza a competição.
Geógrafo por formação, Cabral começou a fotografar profissionalmente em 1996 e, desde então, recebeu diversos prêmios por suas imagens que retratam paisagens naturais em diversas partes do mundo. A imagem premiada, batizada como “The Night Raider“, mostra cupins bioluminescentes sendo devorados por uma tamanduá durante uma noite no Parque Nacional das Emas, em Goiás.
A descrição divulgada pelo concurso informa que o fotógrafo visitou o parque por três anos, esperando pelas condições perfeitas para capturar a cena. Após dias de frustração pela chuva, um tamanduá-bandeira surgiu e atacou o cupinzeiro, permanecendo por tempo suficiente para que Cabral tirasse uma única foto de longa exposição.
A fotografia de Cabral venceu a categoria “Animais em seus ambientes”. O concurso tem ao todo 15 categorias, e recebeu na edição deste ano quase 50 mil inscrições de fotógrafos profissionais e amadores de 92 países. Os vencedores foram selecionados por um painel de jurados pela criatividade, originalidade e excelência técnica.
A imagem chocante de um rinoceronte negro morto com o chifre arrancado foi a grande vencedora do concurso. A fotografia foi feita pelo sul-africano Brent Stirton, na reserva florestal Hluhluwe Imfolozi, a mais antiga do país. O animal foi morto por caçadores com armas com silenciadores durante a noite e teve o chifre arrancado. Stirton fotografou a cena como parte de uma investigação sobre o comércio ilegal de chifres de rinocerontes.
Durante a investigação, o fotógrafo testemunhou mais de 30 cenas como esta, experiência considerada por ele como deprimente.
— Meu primeiro filho vai nascer em fevereiro. Eu tenho 48 anos. E acho que demorei tanto tempo porque meio que perdi a fé durante os trabalhos que fazemos como fotojornalistas — comentou Stirton, em entrevista à BBC. — Você perde a fé na Humanidade em certa medida.
Ele explicou que o rinoceronte fotografado na imagem premiada provavelmente foi morto por moradores da região, que venderam os chifres para um atravessador. Então, a peça foi contrabandeada provavelmente por Moçambique, para alcançar a China ou o Vietnã, onde os chifres de rinocerontes são mais valiosos que ouro ou cocaína. E este comércio é alimentado pela falsa crença de que o chifre pode curar doenças.
— O júri reconhecer esse tipo de fota ilustra que estamos vivendo um momento diferente agora, que este é um problema real — disse Stirton. — A sexta extinção em massa é uma realidade e os rinocerontes são apenas uma das muitas espécies que estamos perdendo a uma taxa extremamente acelerada. Agradeço ao júri ela escolha dessa imagem, pois dá a essa questão uma outra plataforma.
Lewis Blackwell, que presidiu os jurados do concurso, contou que a imagem do rinoceronte morto realmente impressionou os avalistas.
— As pessoas podem ficar enojadas, horrorizadas, mas a imagem te atrai e faz você querer saber mais. Você quer conhecer a história por trás dela — disse o jurado. — E você não pode escapar dela, ela te confronta com o que está acontecendo no mundo.
Fonte: O Globo