As mudanças climática elevam progressivamente a temperatura dos rios, lagos e oceanos do planeta, o que coloca em risco a sobrevivência dos peixes, prejudicados pela redução do oxigênio na água e diante de dificuldades para sua reprodução, informou na quinta-feira (17) o WWF – Fundo Mundial da Natureza.
“A água mais quente representa menos comida, reprodução mais difícil e menos oxigênio para os cardumes de peixes de água doce e salgada”, afirmou um relatório publicado pelo WWF uma semana antes de uma conferência mundial sobre a mudança climática e o Protocolo de Kyoto que acontecerá em Montreal, no Canadá.
Segundo o documento, as mudanças climáticas são responsáveis por alterações no ritmo e na quantidade de chuvas, assim como na temperatura e no nível de rios e mares.
Essas mudanças aumentam a pressão sobre os peixes, já ameaçados por um excesso de pesca que reduziu em 75% a população total desses animais, disse Katherine Short, responsável pelo WWF. De acordo com ela, a temperatura média do planeta subiu 0,7º C no último século.
“É necessário proteger a população de peixes, tanto de água salgada quanto doce, já que é um de nossos animais de maior valor biológico, nutricional e econômico”, afirmou o chefe da Unidade de Política Européia do Clima e Energia do WWF, Stephan Singer.
O relatório sustenta, por exemplo, que o aquecimento progressivo da água pode ter impacto na população de determinados peixes, pois prejudica seu crescimento e sua taxa reprodutiva.
Assim, alguns peixes de águas temperadas, como o salmão e o bagre, não podem se reproduzir se as temperaturas de inverno não chegarem a um mínimo determinado.
Além disso, Short disse que a quantidade de oxigênio dissolvido na água está diminuindo – assim, os peixes têm dificuldades para filtrá-lo na hora de respirar.
Outra conseqüência do aquecimento é que certos peixes são obrigados a abandonar seu habitat natural em busca de temperaturas mais frias, o que deixa outras espécies em sérias dificuldades para encontrar alimento.
Em 1993, por exemplo, um deslocamento de peixes para as profundezas do Golfo do Alasca em busca de regiões mais frias fez com que cerca de 120 mil aves marinhas morressem de fome por não serem capazes de submergir o suficiente para alcançar seu alimento.
Além disso, o WWF advertiu que os agentes patógenos e os parasitas que afetam os peixes se desenvolvem mais rapidamente à medida que aumenta a temperatura, se tornando mais perigosos.
A pesca de peixes de água doce e salgada gera no mundo todo cerca de US$ 130 bilhões ao ano e emprego para 200 milhões de trabalhadores, e a carne de peixe serve de alimento para bilhões de pessoas, segundo Singer. No total, 50% dos peixes exportados procedem de países em desenvolvimento, cujas populações freqüentemente encontram na pesca um meio fundamental de subsistência, explicou.
O WWF pediu aos representantes governamentais que participarão da reunião de Montreal, no Canadá, um compromisso para dar início a negociações com o objetivo de ampliar a diminuição das emissões de dióxido de carbono após o fim do período de vigência do Protocolo de Kyoto, em 2012.
“Se as emissões de gases de efeito estufa não caírem mais, aumentará a pressão sobre os peixes e sobre bilhões de pessoas que dependem deles como fonte de proteína”, garantiu Singer.
No ritmo atual de aquecimento do planeta, até a metade deste século, a temperatura média pode subir em até dois graus centígrados em relação à época anterior à industrialização, uma variação suficiente para provocar o desaparecimento de até um milhão de espécies. (Efe/ Folha Online)