O número recorde de furacões que atingiu o Atlântico Norte em 2005 não mudou só a vida de milhões de pessoas. Mudou a natureza, também. Onde quer que os cientistas olhem, vêem padrões destruídos em recifes de coral, bandos de aves migratórias, praias e populações de camarões e caranguejos que foram envolvidos e alterados pela fúria dos furacões Katrina, Rita e Dennis.
“Nada nunca foi assim”, disse Abby Sallenger, oceanógrafo da US Geological Survey, durante um vôo sobre a Costa do golfo para estudar a mudança das linhas costeiras. Para ele, as mudanças são assustadoras: algumas ilhas quase desapareceram; em outras, praias espalham-se como farinhas jogada de um saco.
Furacões vêm atingindo a costa do Golfo há milênios, esculpindo baías, criando praias e alterando a vida de plantas e animais – mas até agora, a natureza tinha sido capaz de se reerguer. Árvores, animais e o contorno da costa que os turistas de anos recentes conheceram eram basicamente do mesmo tipo que os encontrados pelos piratas do século 17.
Mas, depois de 2005, cientistas dizem que o futuro poderá ser diferente. A natureza pode não reagir com tanto vigor, nem tão depressa. A razão: seres humanos.
“Sistemas naturais são resistentes e contra-atacam”, disse Susan Cutter, geógrafa da Universidade da Carolina do Sul. “O problema é quando tentamos controlar a natureza, em vez de deixá-la fazer o que faz”. Os mares estão subindo, o planeta se aquece e a especulação imobiliária cresce como bola de neve. Esses fatores combinados abrem o caminho para uma degradação ambiental acentuada, dizem alguns.
Entre 2004 e 2005, “basicamente demolimos nossa linha costeira entre Galveston (Texas) e Panama, na Flórida”, disse Barry Keim, climatologista da Louisiana. (Estadão Online)