Uma pesquisa da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP), da Unicamp, avaliou o efeito das lectinas de duas plantas nacionais sobre bactérias presentes na placa bacteriana ou biofilme oral, especialmente em relação à cárie. As lectinas são proteínas encontradas em animais e vegetais, e há muitos anos têm sido objeto de estudos na área médica. Dentre suas funções biológicas já detectadas estão as antimicrobiana, inseticida e fungicida. Recentemente, duas lectinas inéditas extraídas de duas plantas foram purificadas por pesquisadores do Laboratório de Química de Proteínas da Unicamp e do Departamento de Ciências Naturais da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. Elas são cientificamente denominadas Talisia esculenta – ou pitomba, como é conhecida no Norte e Nordeste – e Labramia bojeri – ou abricó-da-praia, encontrada com facilidade no litoral norte do Estado do Rio de Janeiro.
O estudo apontou que a proteína extraída do abricó-da-praia foi capaz de inibir a aderência das bactérias cariogênicas, ou seja, pode ser utilizada na forma preventiva. No caso da pitomba, não foi identificado nenhum tipo de efeito. Para a autora da pesquisa, a odontologista Mara Rubea Tinoco Rodrigues de Oliveira, o trabalho é pioneiro e merece ser aprofundado, pois as duas lectinas nunca haviam sido testadas em microrganismos da flora humana, em especial a oral. “Estudos como este são importantes para o domínio da saúde pública. A idéia é conseguir remédios eficazes a baixo custo, democratizando a oferta”, argumenta.
Mara Rubea de Oliveira afirma que apesar de o país possuir a maior farmácia viva do planeta, ainda está aquém de outros países em pesquisas nesta área. “Um grande passo é a preocupação do governo em formular a Política Nacional de Medicina Natural e Práticas Complementares. Espero que seja mais um instrumento na busca por justiça social”, acrescenta. A pesquisa consta da dissertação de mestrado profissional em odontologia em saúde coletiva, sob o título Avaliação in vitro do efeito de lectinas de sementes de Talisia esculenta e Labramia bojeri sobre o biofilme oral, orientada pelo professor Francisco Carlos Groppo e co-orientada por Maria das Graças Machado Freire.
(Fonte: Raquel do Carmo Santos / Jornal da Unicamp)