Descoberta de rios sob o gelo muda planos para a Antártida

Planos para perfurar os desertos gelados da Antártida, a fim de investigar os lagos que existem debaixo das capas de gelo – e onde, acredita-se, pode haver vida – talvez tenham de ser revistos, após a descoberta de cientistas britânicos, de que rios, de tamanho comparável ao de grandes rios europeus, como o Tâmisa, foram descobertos e correm a uma profundidade de centenas de quilômetros por baixo do gelo.

Essa descoberta desafia a teoria de que os lagos subglaciais desenvolveram-se isoladamente, ao longo de milhões de anos, e portanto poderiam abrigar formas de vida que teriam evoluído de forma “independente”. Já foi sugerido que, se houver micróbios nos lagos, eles poderiam funcionar como as formas que vida que talvez existam em Europa, uma lua de Júpiter, ou em lagos subterrâneos do planeta Marte.

O cientista que liderou a equipe responsável pela descoberta dos rios da Antártida, Duncan Wingham, diz que “antigamente, acreditava-se que a água se deslocava sob o gelo por meio de uma infiltração lenta. Mas estes novos dados mostram que, de tempos em tempos, os lagos debaixo do gelo estouram como garrafas de champagne, gerando inundações que percorrem grandes distâncias”.

“Uma grande preocupação que vem atrasando a perfuração dos lagos é o temor de introduzir micróbios da superfície ali. Nossos dados mostram que qualquer contaminação não ficará limitada a um único lago”, disse e cientista.

Medições extremamente precisas foram feitas da superfície de algumas das capas de gelo mais antigas e espessas da Antártida, com uso do satélite ERS-2, da Agência Espacial Européia. O satélite descobriu mudanças sincronizadas na altitude de superfícies separadas por distâncias de até 290 km.

Os cientistas argumentam que a única explicação possível para essas mudanças seria um grande fluxo de água por baixo do gelo, transferindo líquido de um lago para diversos outros. A descoberta traz nova vida à especulação de que o Lago Vostok, que contém 5.400 quilômetros cúbicos de água – o suficiente para abastecer a cidade de Londres por 5.000 anos – pode ter, no passado, produzido enchentes capazes de chegar à costa do continente. (Estadão Online)