Aumento de violência por falta de espaço é problema global e não apenas indígena, diz antropóloga

Para a antropóloga da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Lúcia Helena Rangel a falta de espaço tem levado as pessoas às favelas nas áreas urbanas, e aos cortiços nas áreas indígenas. Por isso, segundo ela, “há o aumento da agressividade e da violência das pessoas; uma questão global e social da maior gravidade, que vai muito além da questão indígena”.

O Cimi – Conselho Indigenista Missionário lançou nesa quarta-feira (31) o relatório de Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil, com dados sobre violência entre os anos de 2003 a 2005. O relatório, que não é publicado desde 1997, mostra uma série de violências causadas por conflitos territoriais, abuso sexual, mortes causadas pela desnutrição, além de suicídios, assassinatos e homicídios.

Para o vice-presidente do Cimi, Saulo Feitosa, há uma relação inversamente proporcional entre demarcação de terras e violência. De 2003 a 2005, a média de terras indígenas foi de seis, enquanto a média de assassinatos por ano foi mais de 40. “Quanto menos se demarca terras, mais surgem casos de violência”, disse.

De acordo com o secretário-geral da CNBB – Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, Odilo Scherer, o aumento da violência está relacionado a questões antigas e mal resolvidas, como o avanço da pressão sobre as áreas indígenas, o avanço do agronegócio e a especulação sobre as áreas indígenas e sobre a Amazônica. “Existe uma grande dívida da sociedade brasileira com os povos indígenas. A violência deve ser enfrentada com a demarcação das terras e com a uma atenção maior em relação às suas necessidades básicas”, disse.

Para a antropóloga da PUC-SP, a violência no Mato Grosso do Sul – estado com especial aumento da violência contra indígenas, de acordo com o relatório – deve-se à ampliação dos negócios agropecuários e de fazendeiros que têm ganhado o direito de continuar nessas terras. “Parece que os donos de terra que estão em área indígena ganharam força nos últimos anos. Eles têm conseguido na Justiça despejo das comunidades até de área que estavam homologadas pelo governo federal.” (Milena Assis/ Agência Brasil)