Os desertos do mundo estão enfrentando ameaças sem precedentes, principalmente por causa das mudanças climáticas, da crescente demanda por água e mesmo por causa do turismo nessas áreas, alerta um relatório do Programa de Meio Ambiente da ONU (Unep, em inglês) publicado nesta segunda-feira (05).
Considerado o mais amplo estudo já feito sobre as áreas mais áridas do planeta, o documento tem a sua divulgação no Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado nesta segunda.
Segundo o relatório, aumento de temperaturas verificado entre 1976 e 2000 foi muito superior à média anterior. Até 1976, a alta era de 0,45ºC e passou a ser de 0,5ºC a partir daquele ano.
A ONU prevê que a tendência de elevação das temperaturas e diminuição das chuvas vá continuar e projeta um aquecimento de até 7ºC e uma queda de até 20% nas médias pluviométricas dos desertos até o fim deste século.
Recursos desperdiçados – O Programa de Meio Ambiente da entidade também chama a atenção para o mau uso dos recursos naturais do deserto como as reservas de água, que estariam sendo exauridas, e a vida selvagem. De acordo com os especialistas da entidade, se bem explorados, esses recursos poderiam ter benefícios para as pessoas que vivem nessas áreas e a população em geral.
“A maioria dos desertos tem regimes de luz solar e temperatura que favorecem – talvez de forma surpreendente – locais para fazendas de camarão e peixes em locais como o Arizona e o deserto Negev, em Israel”.
O relatório também destaca o potencial farmacêutico das plantas, citando, por exemplo, a alga Haematococcus, um antioxidante e imunizante natural, e a planta Hoodia gordonii, um supressor de apetite usado por habitantes do deserto.
Segundo o Unep, por terem desenvolvido uma resistência excepcional às duras condições de vida do deserto, plantas e animais que vivem nessas áreas oferecem novas fontes de drogas e produtos industriais.
O relatório defende ainda o uso da energia solar dos desertos, que cobrem cerca de um quarto da superfície terrestre e abrigam cerca de 500 milhões de pessoas.
De acordo com o Unep, alguns especialistas acreditam que os desertos possam se tornar as fontes de energia limpas do século 21. “Eles argumentam que uma área de 800 km por 800km de um deserto como o Saara poderia capturar energia solar suficiente para gerar todas as necessidades mundias de eletricidade e mais.”
“Longe de serem terras devastadas estéreis, (os desertos) emergem como (ecossistemas) dinâmicos biologicamente, economicamente e culturalmente enquanto estão cada vez mais sujeitos aos impactos e pressões do mundo moderno”, afirmou o vice-diretor executivo do Unep, Shafqat Kakakhel.
Segundo a ONU, no entanto, se os recursos não forem melhor explorados, países como Iraque, Chade, Níger e Síria terão problemas cada vez mais graves para suprir as suas demandas de água. (BBC Brasil/ Folha Online)