Professores indígenas do povo Mura assumem o português como primeira língua

A Opim – Organização dos Professores Indígenas Mura assumiu o português como primeira língua, nas discussões com a Ufam – Universidade Federal do Amazonas para elaborar a proposta de um curso superior voltado a esses docentes. “Nós temos consciência de que falar ou não uma língua indígena não torna você mais ou menos mura”, explicou à Radiobrás o professor mura e presidente do Conselho Municipal de Educação de Autazes (AM), Alcilei Vale Neto.

Segundo dados da Funasa – Fundação Nacional de Saúde relativos a 2004, vivem em Autazes cerca de 6 mil muras, representando 20% da população total do município. “A língua Mura não existe mais, ela foi extinta a partir do Século 18”, contou Neto. “O povo Mura passou então a usar o nheengatu (língua-geral, introduzida pelos jesuítas na Amazônia no período colonial), durante cem anos. Atualmente ele só é falado nas comunidades, por poucos antigos”.

Desde o início do ano, a Ufam e a Opim estão realizando pesquisas, visitas técnicas e fóruns de debate para discutir a forma e o conteúdo da futura licenciatura mura. O processo de elaboração participativa da proposta – que deverá durar ainda seis meses – tem financiamento de R$ 81 mil do Prolind – Programa de Apoio à Implantação e Desenvolvimento de Cursos de Licenciatura para Formação de Professores Indígenas.

O projeto aprovado pelo MEC – Ministério da Educação previa duas oficinas assessoradas pelo linguista Wilmar D´Angelis, da Unicamp – Universidade Estadual de Campinas, para debater os idiomas a serem trabalhados no curso superior indígena. Uma delas já aconteceu – a outra está marcada para meados de agosto.

“Decidimos que na grade curricular o nheengatu vai entrar como pesquisa. Vamos procurar entender melhor a estrutura dessa língua, para produzir pequenas frases e textos”, revelou Neto. “Será um trabalho, por enquanto, voltado apenas aos professores. A sociedade nos cobra muito um falar diferenciado. Então a gente está estudando essa língua para buscar uma identificação externa, porque a interna é o português”.

Em Autazes, há 1.380 alunos Mura que estudam em 10 escolas da região, com turmas de 1ª à 6ª série do ensino fundamental. Cerca de 60 professores Mura já concluíram o ensino médio, sendo que 42 deles cursaram um magistério específico. Esses docentes são o público-alvo da primeira turma de Licenciatura Indígena, que poderá estar formada no próximo ano, se houver recursos.

O projeto aprovado no Prolind/MEC é apenas para elaborar a proposta do curso superior. Sua implantação imediata depende dos esforços da própria Ufam e da Opim em renovar o apoio e em buscar novas parcerias. (Thaís Brianezi/ Agência Radiobrás)