Paleontologistas criaram imagens detalhadas, em três dimensões, dos estágios embrionários das primeiras formas de vida multicelular da Terra. Algumas dessas imagens são tão precisas que revelam mais sobre o desenvolvimento das criaturas extintas do que a ciência sabe, hoje, sobre alguns seres ainda vivos.
A equipe de cientistas chineses, suíços e britânicos fez repetidas varreduras de raios-X de minúsculas esferas de células fossilizadas, e usaram um computador para montar as imagens em tomografias microscópicas. Alguns dos embriões analisados revelaram mecanismos de desenvolvimento até agora desconhecidos, porque a evolução os eliminou da natureza. Outros têm características que os colocam entre os ramos mais baixos da árvore evolucionária dos animais.
“Os resultados são orgásmicos”, disse Philip C. Donoghue, paleontólogo da Universidade de Bristol, Inglaterra, que chefiou a equipe responsável pela criação das imagens, que serão divulgadas na edição desta quinta-feira da revista científica Nature.
Paleontologistas usam, há cerca de uma década, a técnica de aplicar ácido para separar embriões fossilizados de rocha. O objetivo é encontrar espécimes de 500 milhões de anos atrás, quando os animais multicelulares começaram a proliferar. Toneladas de rocha têm de ser dissolvidas para liberar poucas centenas de embriões, nenhum deles com muito mais que uma fração de milímetro de diâmetro.
Mas, até agora, esses embriões eram pouco mais que “curiosidades da fossilização”, segundo Donoghue. Com a nova técnica de raios-X e tomografia, ele e seus colegas foram capazes de criar cortes transversais, secções e, ao encadear imagens de embriões em diferentes estágios de desenvolvimento, seqüências virtuais da metamorfose dos animais.
Uma das imagens mostra uma criatura com o corpo dividido em segmentos, conhecida como Pseudooides, que tinha um método inédito de construir a si mesma. Os animais segmentados modernos ou desenvolvem todos os segmentos de uma vez e depois simplesmente crescem, ou fazem surgir novos segmentos a partir da ponta da cauda. Mas o Pseudooides crescia juntando segmentos no meio do corpo, “o que é totalmente bizarro”, de acordo com o cientista. (AP/ Estadão Online)