Pesquisador da UFRJ afirma que faltam investimentos na paleontologia

À medida em que as pesquisas em paleontologia avançam no Brasil e no mundo, os pesquisadores podem, querem e devem responder a cada vez mais perguntas relacionadas aos achados. De acordo como Alexander Kellner, pesquisador do Museu Nacional/UFRJ, o desenvolvimento depende de investimento e um país do tamanho do Brasil não pode ficar de fora de financiamentos de estudo dos fósseis, embora em muitos lugares no país esta não seja a realidade. O pesquisador ministrou uma palestra na manhã desta segunda-feira (22), no evento da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Zona Oeste do Recife, sobre como avançar nos estudos dos dinossauros no país.

No Brasil, há 21 espécies consideradas válidas de dinossauros. Até 1999, haviam apenas três – com esses dados, Alexander mostrou como a visibilidade da pesquisa de paleontologia de dinossauros no Brasil foi tardia e só chegou por conta da grande divulgação nos últimos anos.

Os fósseis ajudam no entendimento da deriva continental (teoria sobre a separação dos continentes), no estudo da geologia do petróleo e nas mudanças naturais da superfície terrestre, inclusive envolvendo aspectos culturais do homem e da evolução. Com tantas finalidades, espanta o pesquisador que haja uma falta de investimento, percebida dos mais complexos ambientes de pesquisa até as exposições nos museus brasileiros. “Estamos melhorando, mas ainda não melhoramos como nosso potencial permite. As exposições no país são horríveis, ridículas. Se colocasse lá fora, as pessoas não teriam interesse em ver, imagina em pagar R$ 1 que fosse. Mas não há dinheiro para investir nelas”, lamentou o professor.

Alexander quis contextualizar a paleontologia, dar dados, explicar pesquisas e, principalmente, desmistificar a ideia errôneo de que o paleontólogo é aquela pessoa que fica atrás de uma mesa cheia de ossos empoeirados ou vai ao deserto encontrar colunas completas de vertebrados de outros tempos. “Embora eu goste muito dos ossos empoeirados”, brincou ele, destacando algumas pesquisas de ponta atualmente desenvolvidas no país. “Existem outras tecnologias, a procura por biomoléculas, aparelhos, exames, computadores potentes”, disse.

Durante a palestra, ele explicou como a tecnologia facilita este tipo de estudo com os aparelhos mais modernos e ilustrou as áreas onde os fósseis são encontrados ao redor do mundo. Ele detalhou também que a tecnologia e os investimentos nacionais não têm comparação com os de outros países. “A gente não pode sempre mandar as pesquisas para os Estados Unidos, por exemplo. Se o fóssil foi encontrado aqui, deve ser pesquisado aqui. É importante que tenhamos pesquisadores aqui. O nosso país tem potencial, mas precisamos de verba”, continuou.

Em outros países, é possível pensar em dezenas de Museus de História Natural com investimentos em exposições, exibição e publicidade, o que muitas vezes falta para o Brasil. “Fui à Carolina do Norte, um estado pequeno dos Estados Unidos, e eles têm um museu que dá de mil a zero no meu. Mil a zero”, enfatizou o professor do Museu Nacional.

Segundo Alexander, no entanto, a solução para estes problemas vem de muito antes. “Se você me perguntar, não existe uma solução mágica. Um ponto certo é que sim, falta investimento na paleontologia, nos museus. Mas num plano geral, falta investimento lá atrás, na educação básica”, disse. Ele utiliza os dinossauros em exposições do Museu Nacional como carros-chefe para atrair crianças e jovens para as pesquisas desenvolvidas no país nesta e em várias outras áreas.

Mas, de acordo com ele, o investimento nas pesquisas e na divulgação não vão dar apenas melhores resultados ou melhores exposições. “Vai resultar na formação de pessoas melhores. Infelizmente as crianças lá fora veem coisas muito melhores do que as daqui”, disse, destacando a importância de despertar o interesse dos jovens brasileiros no assunto e em fósseis encontrados no país, muito mais do que aqueles encontrados internacionalmente.

“Não quero que as crianças necessariamente virem pesquisadoras, mas pelo menos se interessem pelo assunto. Um dos maiores elogios que eu recebi foi quando eu estava dando uma palestra e uma pessoa chegou para mim e disse: ‘Eu fui fazer Química na universidade por causa do Museu [Nacional]’. Não tem nada a ver com a minha área, mas fiquei lisonjeado”, concluiu Alexander.

A SBPC segue na Universidade Federal de Pernambuco até o dia 26 de julho. A programação completa pode ser conferida no site do evento. (Fonte: G1)