A falta de água, vista como um problema dos países mais pobres, afeta cada vez mais os ricos, adverte um relatório da rede de conservação ambiental WWF.
Mudanças climáticas, perda de áreas alagadas, infra-estruturas inadequadas e mau gerenciamento dos recursos transformaram a questão em “problema verdadeiramente global”, disse a organização.
“Riqueza econômica não se traduz em abundância de água”, afirmou o supervisor do levantamento, Jamie Pittock. “Escassez e poluição estão se tornando mais comuns, e a responsabilidade por encontrar soluções cabe tanto a países ricos como pobres.”
O WWF alertou os países em desenvolvimento para que não desperdicem a chance de “aprender com os erros do passado”, cometidos pelos países ricos.
Desperdício e escassez de água são dois lados da mesma moeda, indica o relatório. Algumas das cidades mais ricas do mundo, como Houston, no Texas, e Sidney, na Austrália, consomem mais água do que são capazes de repor.
Nos Estados Unidos e no Japão, o uso diário de água per capita alcança os 350 litros, enquanto cada europeu consome 200 litros por dia, afirmou o relatório.
Na África subsaariana, o consumo diário per capita é de no máximo 20 litros. Em Londres, a infra-estrutura ultrapassada gera um volume de perdas equivalente a 300 piscinas olímpicas por dia. Segundo o levantamento, regiões áridas da Europa, como a maior parte da Espanha e Portugal, devem sofrer “severamente” com a escassez de água em 2070.
Apesar disso, práticas agrícolas continuam insustentáveis. Uma análise do WWF determinou que a água usada anualmente para produzir excedentes em colheitas espanholas de milho, algodão, arroz e alfafa seria suficiente para abastecer mais de 16 milhões de habitantes do país.
“Colheitas estão se expandindo não como resposta à demanda do mercado, mas como resposta à disponibilidade de subsídios”, critica a organização, que destacou ainda a má qualidade da água restante.
A Espanha foi o destaque do relatório, registrando o pior resultado de freqüência de nitratos em águas subterrâneas e em águas potáveis.
Uma conseqüência da pior qualidade da água doce é a perda de biodiversidade, apontou o documento. Desde 1970, houve declínio nas populações de mais da metade de 200 espécies de águas doces analisadas pelo índice “Planeta Vivo”, medido pela organização.
“O custo de recuperar ecossistemas prejudicados é de dez a cem vezes maior que o de mantê-los”, alertou o WWF.
“Governos devem encontrar soluções tanto para os (países) ricos como para os pobres, o que inclui reparar infra-estrutura antiga, reduzir contaminantes e mudar práticas de irrigação.”
O relatório antecede a Semana Mundial da Água, evento que será realizado em Estocolmo, na Suécia, de 20 a 26 de agosto. (BBC Brasil/ Estadão Online)