Um sistema de observação global, capaz de prever enchentes, furacões, secas e tsunamis, entre outros fenômenos naturais, com até um mês de antecedência. Parece um sonho, mas, se a Comunidade Européia e todos os 65 países que já aderiram ao projeto cumprirem as metas estabelecidas, vai se transformar em realidade em menos de uma década. Conhecido como Sistema dos Sistemas de Observação Global da Terra (Geoss, na sigla em Inglês), a ferramenta de monitoramento foi apresentada durante o 11º Congresso Mundial de Saúde Pública, no Riocentro, pelo vice-almirante americano Conrad Lautenbacher.
Segundo ele, o sistema, que também já recebeu a adesão de 43 instituições internacionais, poderá ajudar a reduzir a proporção de mortes relacionadas a eventos climáticos e atmosféricos. Só na última década, afirmou Lautenbacher, elas representaram 25% do total de óbitos no mundo. Foram 500 mil vítimas fatais, com prejuízos de US$ 750 bilhões. “A correlação entre meio ambiente e saúde pública é muito forte. No Paquistão, por exemplo, o risco de uma epidemia de malária é cinco vezes maior no ano seguinte ao El Niño, que, por sua vez, ocorre em um período que varia entre dois e cinco anos”, disse Lautenbacher, explicando que há ligação direta também em relação a outras doenças, como, por exemplo, cólera, dengue, hantavirose.
Os países já estão estruturando suas bases de dados nacionais, informou o vice-almirante. Serão mil pontos de coleta espalhados na terra e no espaço, para reunir informações por dispositivos variados, como satélites, sensores e bóias. O Brasil é um dos 12 países do comitê executivo do Geoss, que foi sugerido em 2003, após uma reunião do Grupo dos 8, que reúne os países mais ricos do mundo, e formalizado no ano passado, quando foi estabelecido um plano de trabalho com prazo de encerramento em 2015.
De acordo com Lautenbacher, o Geoss vai atuar em nove áreas, que incluem desde a área da saúde e da energia até a agricultura e bióetica. Os dados poderão ser acessados por dois meios: um site na rede mundial de computadores ou um kit composto por uma antena de satélite, um microcomputador, e uma caixa de recepção, ao custo estimado de US$ 1.500.
Perguntado sobre a situação de países em desenvolvimento que não dispõem de recursos para implantar o projeto, Lautenbacher ressaltou a importância da participação de todos, mas não deixou claro se haverá alguma ajuda financeira, limitando-se a ressaltar a colaboração técnica dos países mais desenvolvidos, como os Estados Unidos. Diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e coordenador técnico do Geoss no Brasil, Gilberto Câmara ressaltou a importância da iniciativa ao dizer que as soluções para questões como a gripe aviária e o aquecimento só podem surgir a partir de um pacto internacional.
“A ciência, para proteger o planeta, só funciona de forma globalizada”, destacou, informando que o Brasil já dispõe de recursos que podem ajudar o sistema, entre eles, os satélites de observação da terra em conjunto com a China. Um deles, o Cbers-2, já está em órbita. Há outros três em construção. (Karine Rodrigues/ Estadão Online)