Um labirinto de cânions de 45 km na Antártida foi escavado na rocha pelo esvaziamento catastrófico de lagos preservados sob o gelo, durante um período de aquecimento global entre 12 milhões de 14 milhões de anos atrás, de acordo com pesquisadores que alertam que um evento semelhante, na atualidade, teria conseqüências graves para o meio ambiente.
Embora a teoria de que a região Labirinto, no sul da região da Antártida conhecida como Terra Victoria, teria sido criada pela água liberada por lagos ocultos sob o gelo não seja nova, pesquisadores de duas universidades americanas afirmam ter encontrado evidência geológica que determina o período da última grande inundação, e estabelecem uma ligação entre ela e um período de aquecimento global. Os cientistas determinaram a data da última cheia subglacial ao estabelecer a idade de cinza vulcânica preservada na superfície do leito rochoso, explica a geóloga Laura Webb, que tomou parte no estudo.
O labirinto é uma rede de canais na rocha que marca o terreno que emerge da Capa de Gelo Leste da Antártida. É uma de uma série de redes de canais que cruzam as Montanhas Transantártidas. Alguns dos abismos têm até 300 metros de profundidade, e quilômetros de largura. Os cientistas especulam há tempos que o volume de água necessário para escavar os canais era muito maior que o produzido pelo degelo de geleiras.
Webb diz que a enchente subglacial não foi contínua, mas episódica, e provavelmente durava dias ou meses em cada vez. Um artigo com as descobertas foi publicado no periódico Geology.
Outra pesquisadora envolvida no estudo, Suzanne Baldwin, alerta que o episódio pré-histórico tem implicações na situação atual de mudança climática. Uma nova liberação maciça da água dos lagos que existem aprisionados no gelo antártico poderia afetar a estabilidade da capa de gelo do continente, a circulação de água nos oceanos do hemisfério sul e o clima em escala global. (Estadão Online)