A proporção de domicílios ligados à rede de abastecimento de água regrediu em pelo menos quatro Estados e no Distrito Federal entre 2004 e 2005, apontam dados da PNAD 2005 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. A situação é mais grave no Norte, que já tinha a menor cobertura em 2004 e piorou no ano passado.
A pior queda foi no Amazonas, onde o percentual de lares atendidos caiu 4,1%, de 68,2% para 65,5%. A cobertura recuou 2,5% em Goiás (de 79% para 77%) e no Amapá (67,0% para 65,4%). Brasília registrou queda de 2,2%, de 93,1% para 91%. Já o Pará, que tem a segunda pior cobertura do país, ficou em uma situação ainda mais preocupante: a proporção de domicílios conectados à rede diminuiu 1,9%, de 48,2% para 47,3% no período.
Por outro lado, o atendimento se expandiu em pelo menos nove Estados. O maior avanço foi no Maranhão, onde a cobertura cresceu 3,9%, passando de 59% para 61,3%. Mato Grosso registrou a segunda maior alta, de 3,4%, elevando a proporção de domicílios ligados à rede de 64,3% para 66,5%. Outra expansão expressiva foi a do Rio Grande do Norte, onde o indicador subiu 3,3%, de 85% para 87,8% — o que permitiu que o Estado saltasse nove posições no ranking nacional, passando da nona para a quarta maior taxa de atendimento. Também melhoraram a cobertura Santa Catarina, Alagoas, Piauí, Espírito Santo, Tocantins, Sergipe e Rondônia (este, não o suficiente para deixar de ser o Estado com menor proporção de domicílios ligados à rede de água: 36,0%) . Em outros 13 Estados, a variação foi menor que 1 ponto percentual.
Apesar de as variações maiores que um ponto percentual serem significativas, não é possível afirmar com 100% de segurança que os Estados melhoraram ou pioraram o atendimento ou se as variações são resultado de um efeito estatístico, afirma a coordenadora da PNAD, Vandeli Guerra. Ela confirma, no entanto, que a oscilação no Amazonas indica que houve de fato um regresso na cobertura. “No Norte, como as amostras são menores, é possível de as taxas apresentem uma variação maior. Mas, pelo coeficiente de variação do Amazonas, a queda de 68,2% para 65,5% é significativa”, completa.
A queda da cobertura no Amazonas mostra que o crescimento populacional não foi acompanhado da melhoria da infra-estrutura de abastecimento de água, avalia a cientista social Maria do Perpetuo Socorro Chaves, professora da UFAM – Universidade Federal do Amazonas. “O que podemos perceber é que as pessoas estão buscando alternativas para ter acesso à água. Existe uma comunidade aqui em Manaus que formou uma cooperativa para perfurar poços artesianos. Eles já pediram à companhia de águas aqui do Amazonas para serem atendidos, mas não conseguiram. Agora estão tentando ver se a empresa faz o monitoramento da qualidade da água, mas ainda não conseguiram”, conta.
Outro obstáculo à ampliação do atendimento no Estado é o isolamento das comunidades nos municípios do interior, de acordo com a professora. “É praticamente impossível trabalhar com o mesmo sistema das cidades nas áreas rurais. Mas é preciso encontrar uma solução para melhorar o abastecimento aqui no Amazonas. Nossas taxas de atendimento são uma contradição: estamos na maior bacia de água doce do mundo e existem tantas pessoas com acesso à água de tão baixa qualidade”, destaca. (Alan Infante/ PrimaPagina)