O caramujo-gigante africano (Achatina fulica) é a espécie exótica invasora que mais causa danos ao meio ambiente e à agricultura no Brasil. As técnicas de controle desta praga são relativamente triviais, mas só têm eficácia se contarem com campanhas articuladas pelo poder público e participação ativa das comunidades locais.
Este é o foco principal do artigo Rápida dispersão de um molusco na América do Sul: o caramujo-gigante africano no Brasil, no qual um grupo de pesquisadores fez um relato inédito sobre o projeto de controle da espécie em áreas urbanas e Unidades de Conservação, realizado entre 2002 e 2004 pelo Ibama – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis e da Fiocruz – Fundação Oswaldo Cruz.
Um dos autores, o analista ambiental do Núcleo de Fauna do Ibama/RS, Fábio André Faraco, afirma que o artigo será publicado em janeiro de 2007 na revista científica norte-americana Biological Invasions.
O projeto do Ibama consiste em oficinas de capacitação e de educação ambiental com a finalidade de instrumentalizar o governo municipal e população para o combate à praga. “Nosso trabalho enfoca o projeto piloto no Estado do Rio de Janeiro, desde os primeiros focos registrados, baseando-se em modelos que mostram como foi rápida a dispersão. Narramos a tentativa de controle feita na unidade de conservação de Poço das Antas e, do lado urbano, nas cidades do entorno: Silva Jardim e Casimiro de Abreu”, disse ele à Agência FAPESP.
Segundo o analista, o procedimento básico para combate ao caramujo consiste em recolher os espécimes – com proteção de luvas ou sacos plásticos, para evitar o contato direto – e depositá-lo nos recipientes disponibilizados pelas prefeituras.
O poder público então se encarrega de levar os animais para um aterro sanitário, onde são esmagados e enterrados sob uma camada de cal. “Por isso é necessário envolvimento direto das prefeituras e da população. A comunidade precisa saber que esse caramujo é um problema”, disse Faraco.
O projeto do Ibama começou com um piloto no Rio Grande do Norte, em 2004. Depois foram feitas oficinas em 11 municípios de São Paulo, três no Rio de Janeiro, uma em Manaus (AM) e duas no Mato Grosso. “Essa foi a primeira rodada. Algumas prefeituras continuaram o programa, outras pararam. O importante é que introduzimos um modelo que pode ser replicado”, declarou.
Os artigo foi escrito por Faraco em conjunto com os pesquisadores Silvana Thiengo e Mônica Fernandes (Fiocruz), Norma Salgado (Museu Nacional) e Robert Cowie (Universidade da Flórida/ EUA).
Ameaça à biodiversidade – O pesquisador explica que a espécie foi trazida para o Brasil no fim da década de 1980. Anunciado como uma opção para produtores que quisessem faturar alto com uma alternativa ao escargot, o animal não apenas se mostrou inútil para o consumo, mas se transformou num grave problema.
“Ocorre que quem consome o escargot quer um produto de luxo. Não havia mercado consumidor para um produto pirata de procedência duvidosa e sem certificação de qualquer espécie. A maioria dos produtores vítimas do engodo simplesmente jogou os caramujos fora. A natureza se encarregou de disseminá-los”, contou Faraco.
O poder de reprodução do caramujo-gigante é impressionante. Eles colocam de 500 a mil ovos por vez e em cinco meses estão prontos para a reprodução, que ainda é facilitada pelo fato de serem hermafroditas. Os moluscos vivem por sete anos. “Se você colocar dois deles num quintal, em alguns meses terá milhares e milhares”, afirmou o analista.
Para tornar a situação ainda mais grave, o animal é extremamente resistente, sobrevivendo em diferentes temperaturas. Alimenta-se de todo tipo de vegetais, causando incalculável prejuízo à agricultura. E desequilibra os ecossistemas ao competir por alimento e servir de repasto para algumas espécies, que acabam consumindo excesso de proteína. “O caramujo-gigante é o primeiro da lista em matéria de problemas com espécies invasoras em todo o mundo”, disse Faraco.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, as 136 espécies exóticas invasoras no Brasil representam a segunda maior causa de perda de biodiversidade do mundo inteiro. A Universidade de Cornell, nos Estados Unidos, divulgou que essas espécies causam prejuízos de R$ 1,4 trilhão. (Fábio de Castro/ Agência Fapesp)