Pesquisadores da Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária identificaram a cidade mais chuvosa do Brasil: o município de Calçoene, no Amapá, com uma precipitação média anual de 4.165 milímetros.
O pesquisador Daniel Pereira Guimarães, da área de Agrometeorologia da Embrapa Milho e Sorgo, em Sete Lagoas (MG), analisou séries históricas de chuvas em mais de 400 estações na Amazônia, elaborando um novo mapa da precipitação na região. Além de indicar o local mais chuvoso, o estudo revelou uma notável variação nos padrões de distribuição das chuvas.
Segundo o pesquisador, dados anteriores indicavam a região da Serra do Mar, entre Paranapiacaba e Itapanhaú, em São Paulo, como o local mais chuvoso do país, com uma precipitação média anual de 3.600 mm. O município amapaense, no entanto, já chegou a 7 mil mm, no ano 2000. A precipitação é três vezes maior que na cidade de São Paulo, por exemplo.
“Em Calçoene, entre janeiro e junho, todos os meses são registrados mais de 25 dias de chuva, ou seja, chove quase todos os dias”, disse Guimarães à Agência FAPESP. Guimarães afirma que a falta de dados de registros históricos consistentes e de longa duração limitou os estudos anteriores. “A caracterização climática de uma região deve se basear em dados consistentes e coletados por, pelo menos, 30 anos”, disse.
Com a criação da ANA – Agência Nacional das Águas, em 2000, foram organizados bancos de dados contendo milhares de séries históricas em todos os estados da Federação, segundo Guimarães. “Isso possibilitou uma série histórica satisfatória e pudemos obter informações mais detalhadas para a região”, declarou.
O município amapaense, de sete mil habitantes, situa-se na microrregião do Oiapoque e é conhecido por abrigar um sítio arqueológico pré-colombiano formado por 127 granitos megalíticos alinhados de forma circular. A construção, conhecida popularmente como o stonehenge amazônico, ainda não foi datada pelos arqueólogos. Acredita-se que pode se tratar de um local de observação astronômica ou rituais.
“O sítio arqueológico foi descoberto no fim de 2005. Não sabemos se sua construção tem relação com conhecimentos meteorológicos. Mas é no mínimo curioso que tenha sido feito no local mais chuvoso do país”, afirmou o pesquisador.
Grandes variações – A análise feita por Guimarães identificou grande variação nos padrões de precipitação da região amazônica. Algumas áreas do nordeste de Roraima, por exemplo, têm chuvas muito inferiores à média regional. Há áreas de pluviosidade muito baixa também no sul de Tocantins e Rondônia.
“As áreas de maior precipitação estão no litoral do Amapá e na região da Cabeça de Cachorro, no noroeste do Amazonas. Já no Pantanal Mato-Grossense, há precipitações tão baixas quanto as registradas no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, região do Polígono das Secas”, declarou Guimarães.
O objetivo do trabalho de caracterização climática de diversas regiões, segundo o pesquisador, é fornecer dados para fundamentar as políticas públicas no setor agrícola. “Trabalhamos com o zoneamento agrícola com o objetivo de otimizar as safras. Os dados são utilizados para indicar quais os produtos ideais e as melhores épocas para plantio em determinadas regiões”, disse.
Nas áreas urbanas, os levantamentos servem para a identificação de áreas de riscos de enchentes e inundações, além de serem usados para o dimensionamento das redes pluviais, calhas e bueiros, explicou Guimarães. (Fábio de Castro/ Agência Fapesp)