As temperaturas médias no Brasil cresceram 0,7ºC nos últimos 50 anos, e podem subir mais de 6ºC em algumas regiões da Amazônia no fim deste século. As conclusões são de pesquisadores do Inpe – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, que desenvolveram um novo modelo para tentar descobrir como o aquecimento global afetará o país.
Os primeiros resultados serão apresentados em fevereiro ao Ministério do Meio Ambiente. Apesar das incertezas, os pesquisadores do Inpe, liderados por José Marengo, afirmam que a previsão é que no período de 2071 a 2100 a maior parte do país esteja mais seca e mais quente do que hoje.
O quadro é especialmente grave para a Amazônia: mesmo cenário mais otimista, as médias na região devem ficar mais de 3ºC mais altas no período 2071-2100. Nesse quadro, com maiores temperaturas e menor precipitação, é grande o risco de que parte da floresta se converta em cerrado.
Com base em observações coletadas em estações meteorológicas, o grupo do Inpe também pôde estimar o aumento médio de temperatura no país nos últimos 50 anos. O Brasil esquentou um pouco mais nesse período (0,7ºC) que o planeta inteiro esquentou em um século (0,6ºC). “As temperaturas mínimas subiram aproximadamente 1ºC, e as máximas, cerca de 0,5ºC”, disse o climatologista Carlos Nobre, do Inpe.
“Porém, um fator que nos atrapalha demais neste tipo de análise observacional é a falta de series históricas climáticas longas para o país.”
Já com a modelagem há bem menos problemas. O modelo regional do Inpe (que só abrange a América do Sul) tem uma resolução bem melhor do que a dos modelos climáticos globais usados pelo IPCC – Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática em suas previsões sobre o clima no futuro.
Modelos climáticos são programas de computador que simulam as condições futuras da Terra após serem alimentados com informações como temperatura, nuvens, aerossóis na atmosfera e oceanos. Para fazer seus cálculos, eles dividem o mundo em várias células. Como o clima é algo complexo, eles diferem muito entre si no resultado de suas simulações.
Os modelos globais usados pelo IPCC usam células de 200 km por 200 km – ou seja, processos que acontecem numa escala menor não aparecem. E isso é uma fonte de incerteza.
O modelo regional do Inpe usa células de até 40 km. “Nessa escala dá para para detectar circulações atmosféricas que tem a ver com a topografia (por exemplo, brisas marítimas devidas ao contraste oceano-continente). Isso é importante para estudos sobre os impactos das mudanças climáticas em setores com agricultura e energia e em sistemas naturais e modificados”, disse Nobre.
Também foi possível resolver uma questão que atormentava os cientistas: o aquecimento global faz aumentar ou diminuir as chuvas no Nordeste? Até agora os modelos davam resultados divergentes. O novo modelo crava a má notícia: a região deve ficar ainda mais seca.
Nobre faz um alerta, no entanto: para chegar a seus resultados, o grupo do Inpe precisou unir seu modelo a um modelo global – afinal, o clima é global e não regional. O escolhido foi o do Hadley Centre, no Reino Unido, que tende a calcular um mundo mais seco.
“Isso condiciona a observação”, diz o cientista. Na próxima fase de seu estudo, o grupo do Inpe deve tirar a teima usando três modelos globais em vez de um único. (Claudio Angelo/ Folha Online)