Cientistas de diversas partes do mundo reúnem-se a partir desta segunda-feira, 29, em Paris (França), para finalizar um relatório oficial sobre a mudança climática e que, espera-se, fará um alerta sobre a elevação da temperatura e do nível dos mares.
O Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC) deverá divulgar sua mais recente avaliação da ameaça trazida pelo efeito estufa nesta sexta-feira, 2 de fevereiro. A reunião do Painel se dá num momento em que o planeta enfrenta um dos seus períodos mais quentes em milhares de anos – ou mais – e a preocupação internacional sobre o que fazer a respeito atinge níveis nunca vistos antes.
“Em nenhum momento do passado houve tamanho apetite global” por informações confiáveis a respeito do aquecimento global, diz o presidente do painel, Rajendra Pachauri.
Cientistas vêm evitando comentar o conteúdo do relatório, mas afirmam que ele será mais específico e, também, mais amplo que os trabalhos divulgados anteriormente pelo comitê.
Versões preliminares do documento que vazaram para a imprensa oferecem uma imagem menos preocupante que a do relatório anterior, de 2001, prevendo elevações menores do nível do mar. Mas muitos cientistas importantes rejeitam os números citados nos textos preliminares, afirmando que não são recentes o bastante: não incluem o derretimento de grandes capas de gelo em locais como a Antártida e a Groenlândia.
Esse é um debate que poderá ser crucial nas reuniões que ocorrerão ao longo da semana na sede da Unesco, em Paris. Depois de quatro dias de edição por mais de 500 especialistas, o IPCC divulgará o primeiro dos quatro grandes relatórios sobre aquecimento global esperados para este ano.
“Esperamos que (o relatório) convencerá as pessoas de que a mudança climática é real e que temos responsabilidade por boa parte disso, e que realmente teremos de mudar nosso modo de vida”, disse um dos autores do trabalho, Kenneth Denman.
O painel, criado pela ONU em 1988, divulga suas avaliações a cada cinco ou seis anos.
Alguns críticos consideram o comitê alarmista, mas sua própria estrutura impõe uma relativa cautela, já que as avaliações baseiam-se em informações fornecidas por centenas de cientistas, incluindo céticos do aquecimento global e funcionários de indústrias que seriam prejudicadas por medidas radicais contra a ação humana sobre o clima. Além disso, os relatórios têm de ser unânimes, e aprovados por 154 governos, incluindo os Estados Unidos e países produtores de petróleo
Pachauri disse que o relatório fará “avanços significativos” sobre a versão de 2001, reduzindo incertezas e acrescentando novos conhecimentos sobre instâncias de mudança climática ocorridas no passado.
As versões prévias do novo relatório prevêem que, até 2100, o nível do mar terá se elevado entre 12,7 e 58 centímetros. Isso é muito menos que a margem de 51 a 140 centímetros prevista em estudo publicado, neste mês, pela revista Science. Outros especialistas em mudança climática, incluindo o cientista da Nasa James Hansen, prevêem mudanças ainda mais radicais.
Alguns críticos temem que os cientistas envolvidos no IPCC não tenham levado em conta mudanças recentes na Antártida e na Groenlândia.
No passado, o comitê não levou em conta a possibilidade de um grande derretimento no oeste da Antártida e na Groenlândia, ao longo deste século. As previsões sobre o nível do mar baseavam-se no derretimento de geleiras, que são diferentes das capas de gelo, e da dilatação da água pelo aquecimento.
Mas, em 2002, a massa de gelo Larsen B, da Antártida, de 3.250 km2, se partiu e desapareceu em 35 dias. E dados recentes da Nasa mostram que a Groenlândia está perdendo 221 km3 de gelo a cada ano – o dobro da taxa registrada há dez anos. (AP/ Estadão Online)