Nuvens continuam um mistério para painel sobre clima

Prever como as nuvens vão se formar em um clima mais quente continua a ser algo difícil, diz um relatório da ONU a ser divulgado na sexta-feira, 2. E essa dificuldade, segundo cientistas, complica as projeções sobre como vão se elevar as temperaturas e o nível dos oceanos no futuro.

O painel da ONU sobre o clima, um grupo de renome internacional que reúne 2.500 especialistas e que discute o aquecimento da Terra, deve divulgar, no relatório, seu alerta mais contundente, chamando atenção para as atividades humanas responsáveis pelo fenômeno e para o perigo de ele provocar grandes danos à natureza.

O esboço do relatório mostra que o grupo conseguiu resolver algumas das questões levantadas em um documento de 2001, tais como a questão das disparidades entre a medição das temperaturas feita por satélite e aquela feita na superfície do planeta, e a questão das pequenas partículas de poluição suspensas no ar e que refletem a luz do Sol de volta para o espaço.

Mas a formação das nuvens no século 21 – algo difícil de prever, hoje, mesmo que para um período de 24 horas – está entre as perguntas que continuam sem resposta.

“Há muitas dúvidas sobre como as nuvens responderiam às mudanças climáticas”, diz o esboço do relatório, que está sendo revisto em um encontro, realizado em Paris, do Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas (IPCC).

O ar mais quente consegue absorver mais umidade, o que significaria um maior número de nuvens e, conseqüentemente, mais chuva e neve em muitas regiões. Mas a multiplicação das nuvens pode também bloquear a luz solar.

O relatório, o primeiro sobre as mudanças climáticas a ser divulgado pelo IPCC neste ano, deve vir a público na sexta-feira e servirá de diretriz para os países que tentam elaborar políticas capazes de brecar o fenômeno.

O documento diz que o aumento da quantidade de vapor de água na atmosfera se traduzirá em mais chuva e neve caindo sobre muitas regiões próximas dos pólos, tais como o norte da Europa, o Canadá, o nordeste dos EUA e o Ártico.

Chuvas no Tibete – No inverno, o volume de chuva também aumentaria no norte da Ásia e no platô tibetano, afirma o relatório.

De outro lado, as chuvas devem escassear em muitas regiões subtropicais. E áreas da África e da Europa localizadas perto do Mediterrâneo devem ficar mais secas, ao mesmo tempo em que as chuvas de inverno perderiam força no sudoeste da Austrália.

Em muitas regiões, as trombas d´água se tornarão mais fortes.

Uma maior quantidade de neve poderia compensar pelo eventual derretimento de grandes placas de gelo existentes na Antártida e na Groenlândia. Se essas placas derreterem nos próximos milhares de anos, o nível dos oceanos subiria 65 metros em relação aos níveis registrados hoje.

“Em um clima mais quente, os modelos sugerem que as camadas de gelo acumulariam mais neve, tendendo a baixar o nível dos mares”, diz o documento, acrescentando, porém, que o rápido degelo das bordas dessas placas acabou compensando pelo fenômeno ocorrido nos últimos anos.

“No interior da Groenlândia, a camada de gelo está se tornando mais grossa”, afirmou Catherine Myrmehl, do Centro Nansen de Monitoramento Ambiental e Remoto, na Noruega. O dado baseia-se em leituras de satélite. Muitos cientistas acreditam que a Groenlândia, na somatória final, está perdendo gelo.

O IPCC deve oferecer uma “estimativa mais otimista” a respeito da elevação das temperaturas mundiais, que subiriam 3º C até 2100, quando comparadas com a era pré-industrial.

E deve prever que o nível dos oceanos eleve-se, neste século, entre 28 e 43 centímetros, menos, portanto, do que o previsto no relatório de 2001. (Reuters/ Estadão Online)