Especialistas pediram um estudo mais profundo sobre as versões menos letais do vírus H5N1, da gripe aviária, porque essas cepas podem ter mais probabilidade de disseminar uma pandemia.
Cientistas identificaram pelo menos quatro grandes variações, ou genótipos, do vírus H5N1, desde que ele apareceu em humanos, em Hong Kong, em 1997.
No topo da lista está o genótipo Z, que foi encontrado no sul da China, na Indonésia, na Indochina, em partes da África, na Europa e Oriente Médio, e matou mais da metade dos casos humanos conhecidos.
O genótipo V é bem menos conhecido e apareceu na Coréia do Sul e no Japão, no final de 2003. Este tipo contaminou pelo menos nove sul-coreanos que participaram da destruição de criações no final de 2003 e início de 2004, para conter a doença no país. Nenhuma das vítimas sofreu sintomas sérios e todas se recuperaram.
Outro funcionário de criações de aves foi infectado depois que a doença foi encontrada em fazendas da Coréia do Sul, em novembro, mas também não teve sintomas graves.
Os cientistas fizeram o alerta contra o desprezo pelas linhagens menos agressivas do H5N1, pois elas têm mais semelhança com vírus que mataram milhões de pessoas no passado.
Julian Tang, professor-assistente de microbiologia na Universidade Chinesa de Hong Kong, disse que o que fez as epidemias passadas tão letais não foram altas taxas de mortalidade, mas sim eficiência na disseminação dos vírus entre pessoas. Se muita gente for atingida, até mesmo uma baixa taxa de mortalidade resultará em índices de mortes devastadores.
“Todas as pandemias anteriores de gripe tiveram taxas de mortalidade relativamente baixas (de menos de 3%, incluindo a pandemia de 1918-1919). O número total de mortes foi grande porque muito mais gente foi contaminada, mas a maioria – mais de 97% – sobreviveu”, disse Tang à Reuters.
A Gripe Espanhola, de 1918-1919, matou cerca de 50 milhões de pessoas no mundo, mas o número exato nunca será conhecido.
“Há evidências que até mesmo este vírus passou por alguma adaptação em humanos antes de tornar-se pandêmico, o que pode ser o que estamos vendo nestes casos humanos mais leves e assintomáticos de H5N1 na Coréia do Sul”, afirmou Tang.
“Isso faz sentido do ponto de vista da evolução. Se um vírus for tão letal a ponto de matar 50% de seus hospedeiros, então não se transmitirá com velocidade suficiente para muita gente, e morrerá relativamente rápido. Será menos provável que se torne uma pandemia mundial”, disse Tang.
O H5N1 ressurgiu nas últimas semanas, espalhando-se em criações de aves no Japão, no Vietnã e na Tailândia. Seis pessoas morreram na Indonésia, e o vírus fez sua primeira vítima humana na Nigéria. (Reuters/ Estadão Online)