Na divulgação oficial de um relatório de 21 páginas sobre o que é o aquecimento global, e como ele ocorre – mas sem dizer ao mundo o que fazer a respeito – o Painel Intergovernamental sobre a Mudança Climática (IPCC) oferece uma visão sombria do estado atual do meio ambiente e faz previsões ainda mais preocupantes a respeito do futuro.
“O aquecimento do sistema climático é inequívoco, como agora é evidente, graças a obervações de elevações na temperatura global média do ar e dos oceanos, vasto derretimento do gelo e das neves, e elevação do nível médio do mar em escala global”, diz o texto.
O presidente do painel, o cientista indiano Rajendra Pachauri, referiu-se ao relatório como “um documento muito impressionante, que avança vários passos em relação à pesquisa prévia”. Uma importante cientista do governo dos Estados Unidos, Susan Solomon, declarou, durante o lançamento, que “não pode mais haver questão de que o aumento nos gases do efeito estufa é dominado pelas atividades humanas”.
O relatório afirma que já se pode atribuir às emissões provocadas pelo homem os seguintes problemas: menor número de dias frios; noites mais quentes; ondas de calor letais; enchentes e chuvas pesadas, secas devastadoras e um aumento na força de tempestades e furacões, principalmente no Oceano Atlântico.
E se você acha que a situação já é ruim, os efeitos durante o século 21 “serão, muito provavelmente, maiores que os observados durante o século 20”.
Previsões – O comitê prevê uma elevação de temperatura de 1,1º C a 6,4º C até 2100. Esta é uma faixa de variação maior que a que constava do relatório anterior, de 2001, mas o comitê também diz que a melhor estimativa fixa a mudança entre 1,8º C e 4º C.
No que diz respeito ao nível do mar, o relatório projeta elevações de 18 a 58 centímetros. Mas essa faixa pode ser ampliada em outros 10 a 20 centímetros se do derretimento das capas de gelo sobre as regiões polares continuar.
Além disso, diz o texto, não importa quanto a civilização corte suas emissões de gases-estufa, o aquecimento global e a elevação dos mares prosseguirão pelos próximos séculos.
“Não é uma coisa que dê para parar. Simplesmente teremos de viver com isso”, disse um dos co-autores do trabalho, Kevin Trenberth, do Centro Nacional de Pesquisas Atmosféricas de Boulder (EUA). “Estamos criando um planeta diferente. Se você voltar daqui a 100 anos, teremos um clima diferente”.
Cientistas temem que os políticos interpretem mal a mensagem e simplesmente desistam de fazer algo a respeito. Isso seria errado, declarou Trenberth. O que é necessário é reduzir as emissões e, ao mesmo tempo, adaptar as populações a um mundo mais quente, e com um clima mais maluco.
“A questão aqui é destacar o que acontecerá se não fizer mos nada e o que acontecerá se fizermos algo”, disse outro co-autor, Jonathan Overpeck. “Posso dizer que, se decidirmos não fazer nada, os impactos serão muito maiores do que se fizermos alguma coisa”. (AP/ Estadão Online)