A temperatura média do ar no Brasil poderá aumentar ainda neste século de 25 graus (média entre 1961 e 1990) para 28,9 graus, em um cenário de altas emissões de dióxido de carbono, e para 26,3 graus, em um cenário de poucas emissões de CO². Na Amazônia, o aumento médio pode ser pior, variando de 3 a 8 graus a mais, no cenário mais pessimista possível.
Os dados estão no estudo Mudanças Climáticas e seus Efeitos sobre a Biodiversidade Brasileira, do pesquisador do Inpe – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais José Marengo. A pesquisa foi divulgada nesta terça-feira (27) pelo Ministério do Meio Ambiente, juntamente com mais sete estudos sobre as conseqüências das mudanças climáticas no país
Ao analisar os números, o pesquisador considerou dois cenários extremos. O primeiro é totalmente pessimista, ou seja, considera que nada será feito pelo país para diminuir as causas do aquecimento global. O segundo cenário é absolutamente otimista, ou seja, tudo será feito para melhorar o quadro.
Com base nesses parâmetros, no Nordeste, os aumentos seriam entre 4 graus e 2,2 graus; no Pantanal, 4,6 graus e 3,4 graus; e na região Sul, mais especificamente na Bacia do Prata, de 3,5 graus e 2,3 graus, respectivamente.
Segundo o estudo, essas mudanças climáticas poderão alterar a estrutura e o funcionamento dos ecossistemas. Pode haver perda de espécies animais e vegetais, causadas por alterações das rotas migratórias (no caso das aves, por exemplo) e nas mudanças nos padrões reprodutivos das espécies.
Um outro temor expresso na pesquisa é de que a capacidade de absorção de carbono das florestas tropicais diminua com o tempo. Neste caso, florestas como a Amazônia deixariam de funcionar como eliminadoras de carbono e passariam a ser fonte de emissão de gás.
“O que se pode esperar biologicamente é que o sistema amazônico como é agora pode mudar. Se o clima mudar, a biodiversidade pode ser impactada, possivelmente outras biodiversidades podem mudar e podemos ter situações mais freqüentes, como a seca de 2005”, afirmou Marengo.
O estudo também traz a informação de que as mudanças climáticas deverão facilitar a reprodução de insetos transmissores de doenças, aumentando a incidência de doenças como malária, dengue, febre amarela e encefalite. A redução de chuvas e o aumento dos incêndios florestais causaria mais doenças respiratórias e as pessoas também morreriam mais por causa das ondas de calor, especialmente crianças e idosos. (Irene Lôbo/ Agência Brasil)