A euforia dos governos brasileiro e americano com o etanol vem preocupando consumidores e ambientalistas de potenciais importadores do biocombustível, especialmente na Europa.
“Existe uma grande preocupação em relação à sustentabilidade (do etanol)”, afirmou Peter de Pous, especialista em políticas públicas da EEB – European Environmental Bureau, associação de 140 ONGs ambientais.
Para De Pous, para que o etanol seja considerado uma fonte limpa, é preciso levar em conta o tipo de terra usado para o plantio da cana-de-açúcar, a quantidade de energia despendida em todo o processo de produção e transporte do combustível, entre outros fatores que, segundo ele, estão “longe de esclarecidos”.
O jornal britânico The Independent também publicou, na capa da sua edição de terça-feira, 6, uma reportagem alertando para o que considera uma tentativa de transformar o etanol na panacéia dos problemas ambientais do mundo.
Os questionamentos são feitos às vésperas da visita do presidente americano, George W. Bush, ao Brasil, que deverá ter como tema central uma parceria entre Brasília e Washington para a difusão do etanol como fonte alternativa ao petróleo.
ONU – Em visita ao Brasil, o diretor do Pnuma – Programa da ONU para o Meio Ambiente, Achim Steiner, reconheceu que a possibilidade de uso do etanol e outros combustíveis vem levantando perguntas sobre a sustentabilidade ambiental desses produtos.
“A questão é saber se nós podemos trabalhar com países como o Brasil para administrar o risco”, afirmou Steiner, em entrevista por telefone à BBC Brasil. “O nosso papel é levar a ciência e os fatos (ao debate).”
No caso do etanol brasileiro, as maiores preocupações estão relacionadas ao desmatamento que seria causado para aumentar a área de plantio de cana-de-açúcar, de forma a atender a demanda internacional.
“Quando você corta floresta para proteger o clima, é contraproducente”, diz De Pous, do EEB.
O diretor do Pnuma, que se reuniu na terça-feira com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília, disse, no entanto, querer reforçar as potenciais vantagens do etanol.
“O mundo deveria ver (o etanol) como uma oportunidade, não como um risco”, afirmou.
Segundo Steiner, o que falta é uma estrutura legal para assegurar a sustentabilidade desses combustíveis e tranqüilizar consumidores cada vez mais preocupados com a degradação ambiental.
Na avaliação do diretor do Pnuma, o primeiro estágio do processo é cada país estabelecer o seu próximo sistema legal ou de certificação e apenas posteriormente levar a discussão para o âmbito internacional.
“É muito mais fácil discutir dentro das fronteiras nacionais do que entre 190 países”, enfatizou.
Steiner disse ter levado a mensagem ao governo brasileiro, que, segundo ele, mesmo ainda não tendo uma estrutura legal própria para regulamentar a produção de etanol do ponto de vista ambiental, teria reagido de forma “muito positiva” à idéia.
Para o European Environmental Bureau, a certificação internacional é o melhor caminho para assegurar que a produção dos chamados biocombustíveis é, de acordo com a escala e os métodos utilizados, de fato limpa. (BBC Brasil/ Estadão Online)